segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Mas quem é que pensas que és?


Tu és um nada. Como ousas pensar que és alguém neste vasto universo?

Estava lá quando respiraste pela primeira vez. Acompanhei todo o teu crescimento. Vi tu arrogância em achares que eras livre e que podias fazer tudo. És assim tão ingénuo? Até onde achas na verdade que vai teu livre arbítrio? Até onde achas mesmo que vai tua vontade?

Tu és um nada. És um ser ao qual atribui por delicadeza uma certa inteligência. Que te dei liberdade, condicionada, para poderes fazer o que tu achas ser tua vontade, mas que na verdade é conduzida pelo que eu vou colocando na tua frente, ao que as pessoas chamam de destino e por vezes são obstáculos tão poderosos onde a tua vontade não se sobrepõem à dura realidade da vida.

E tal como um dia tu nasceste, proveniente de um processo natural de fecundação, onde se tiveres sorte és talvez fruto de um amor e viverás sempre no seio do amor parental e familiar, mas se tal não te sair na rifa, vens a acontecer simplesmente. Tal como isto ocorre, é como te vais um dia, simplesmente num processo de deterioração e envelhecimento, ou se a sorte tiver do teu lado, ou azar, depende do ponto de vista, vais antes do teu tempo, antes de poderes realizar o que quer que seja, porque na verdade o destino já te está traçado. Vá, não sejas ingénuo e penses o contrário...poupa tuas energias.

Poupa tuas energias para fazer com que o breve momento que passas a existir possa contar para algo. Esse é o tempo mais importante. Sim é verdade não sabes qual a sua duração e criticas-me dizendo que se nesse tempo não és verdadeiramente livre, porque fazer o que quer que seja? Ah, mas aí é que tu tens a verdadeira liberdade, o verdadeiro livre arbítrio. É nesse tempo que te dou que te podes permitir ser livre e fazer com que tua passagem neste planeta azul conte. Sabes que teu fim virá, mas não sabes como nem quando, então por isso vive, ama, sê o ator principal na tua historia e faz dela a melhor possível. É nisso que deves concentrar tuas energias. Sim, eu sei que vais dizer que te dei uma vida miserável. Que nasceste e tua mãe abandonou-te, ou que nasceste cego, doente. Vais dizer que se calhar sou tão mauzinho que nem sequer te deixo nascer e podes morrer no ventre da tua mãe. Sim é verdade. Sabes disso tal como eu, então torna ainda mais sensato que se de facto viveres e tiveres a possibilidade de fazer pelo bem, de amar, respeitar, de ser humilde e corajoso, conte ainda mais na tua vida, porque sabes que outros não terão tua sorte. O quê? É injusto? Claro que é. Quem te disse que eu era justo?

Mas não te enganes ou pensar que por acaso eu vou ligar alguma às atitudes que professas fazer em meu nome? Tu nem sequer me conheces. Ninguém me conhece. Uns dizem isto e aquilo. Uns chamam-me disto e daquilo, mas o que sou e quem sou está para além da tua compreensão. Por isso porque dizes que vais matar em meu nome, achas que preciso? Porque dizes que vais profetizar em meu nome? Achas que preciso? Porque justificas tua maldade pura dizendo que é para mim, quando é somente para justificar teu lado demoníaco. E como tu és demoníaco... Não penses que tenho reservado para ti o que quer que seja quando morreres. Não reservei para ninguém. Nasces e morres. És energia e essa energia eu recupero para mim, afinal fui eu quem te deu para começar, certo? 

Não sejas parvo e idiota a pensar que sequer vou considerar esse ser maldoso que escolhe fazer da sua vida o centro da maldade e que justifica seus atos com afirmações cómicas como : Eu ouvi vozes, ou Deus disse-me para fazer assim... Patético e ainda mais insignificante do que os restantes.

E por falar em cómico, essas entidades que inventas, dizendo que vêm de mim para te ajudar? Choro de tanto rir. Essas visões que professas ter, nada mais são que invenções que crias para teres poder sobre teu próximo e lucrares com isso. Afinal de que serve viver se não se tem carros, casas, boas roupas e tudo o que o dinheiro pode comprar?  Achas mesmo, ser mesquinho e prepotente, de que eu preciso de alguém para falar por mim? A sério? E que tal acordar hem? E que tal assumir que nada sabes de mim na verdade e que muitos de vocês são mentirosos, demoníacos, gananciosos, porque na verdade eu escondo-me de vocês e é com isso que contam, para fazer tudo em meu nome. Seus seres pequeninos, insignificantes. Como te disse, o que sou e quem sou está para além da tua compreensão. Não te iludas e principalmente não deixes que outros como tu te iludam. Não sejas burro, por favor.

Toma consciência de que tua passagem é curta, que não duras para sempre e que apesar do destino que eu te dei, tens ainda um poder, o decidir sobre  a forma como queres viver esse breve caminho que percorres, onde és realmente tu e onde o destino vai temporariamente fechar os olhos e deixa-te tomar tuas decisões. Mas não te iludas, porque se elas se desviam demasiado do teu objectivo já traçado, o destino vai intervir, porque no fim, eu sempre ganho. Eu recupero meu investimento e tu és somente pó, um aglomerado de equipamentos orgânicos que eu estabeleci, essenciais à tua existência, mas que se destroem com tanta facilidade. 

Vais dizer agora que eu sou a pior coisa que poderia existir e para que pensei eu em criar-te, se te manipulo como uma marioneta? Tens razão em me questionar, mas não será por isso que terás direito a uma resposta. Não te devo sequer qualquer explicação.

Então, mais uma vez eu te digo, tu és um nada, mas enquanto tu estiveres aqui, faz por seres algo, e que seja algo bom. Faz-lo por ti. Porque o legado que deixas pode ter um bom impacto nos outros seres como tu e isso é importante. Porque mesmo que sejas um nada para mim, és sempre alguém para os outros. E quem pode na verdade afirmar, que se calhar, na realidade, eu existo? 





domingo, 29 de novembro de 2020

Não és mais o meu herói...

Choro, sentada na cama a pensar em tudo o que a vida me reservou aos 46 anos. 
Choro por ti também. Porque me arrastaste para esta vida que eu não quero e não pedi por ela. Não é justa para ti, mas certamente também não é para quem está cuidar de ti. Ou a tentar pelo menos.

Será que tuas ações presentes serão assim tão diferentes das que eu cresci a vivenciar?
Questiono quando foi que paraste de olhar para nós como filhas e nos viste como uma pedra, que chutaste para bem longe, na esperança que ela não volte jamais para te fazer tropeçar. E assim foi por algum tempo é verdade.

Viveste tua vida longe de nós, fico com a sensação de que nos odeias e já nos odiavas antes. E nem sequer consigo conceber a razão porque te sentes assim? Tanto ódio e raiva. Como se pode questionar um amor de um pai por um filho e que este se transforme em ódio? Deus, como pode isto acontecer?

Eu sou mãe há 16 anos e a minha linda e preciosa filha é tudo para mim...por isso não, não sei o que poderíamos ter feito...o que...não sei...não sei como...

Não foi só a dor de perder nossa mãe, perdemos o pai também. Aquele que ficou cá não é mais nosso pai. E por mais que tente, não tenho mais a ideia de seres o meu herói. Meu herói morreu, naquela noite de verão, junto com o último suspiro que a mãe deu.

E o enredo em que agora nos colocas, por puro egoísmo da tua parte, é uma peça de teatro desajustada  e complementarmente injusta, que por vezes sinto-me a viver um pesadelo, que teima em não me deixar acordar.

Questiono minha postura em tudo isto, meus valores morais, minha educação. Questiono o que é mais correto a fazer, porque o pesadelo persiste.

Lembro os sacrifícios, os que fizeste para cuidar da tua família e aqueles que agora temos de fazer para cuidar de ti. Não são equiparáveis, nem tampouco quantificáveis. São o que são. E são injustos. Sinto que entramos num túnel sem luz e agora, só às apalpadelas e que podemos seguir em frente e tentar sair daqui. Só não sei onde está o fim, nem como sairemos dele. Se o que restar de nós, será suficiente para seguir nossa vida com algum grau de decência e uma certa felicidade. Porque tu arruinaste-nos.






quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Ninguém é de Ninguém

Desculpe-me o João Pedro Pais, pelas palavras que usei como titulo deste post, mas não me acorre de momento nada mais assertivo.

De facto ninguém é de ninguém. Não somos donos de ninguém. E no entanto, cada dia que passa, fico com a certeza que as pessoas acreditam piamente que amar alguém é ter posse sobre essa pessoa e que automaticamente são donos dessa pessoa, e da vida dela.

Mais uma mulher foi morta às mãos de um companheiro, que no meio do seu delírio, certamente achou que se a mulher não era dele, não seria de mais ninguém. A posse... a maldita posse, que leva o ser humano a praticar estas actos bárbaros com outros seres humanos, sem sequer pensar nas consequências.

Esta mulher deixou duas filhas, lê-se na notícia. Uma delas com 12 anos. será que este homicida não pensou na dor que ia causar a estas duas pessoas que ficaram sem a mãe?

Chega a dar medo pensar em ter um relacionamento hoje em dia, porque até o mais pacato dos seres vira um assassino. E aquela pessoa que noite após noite deitou na mesma cama, partilhou vida, emoções, sentimentos, não sabe aceitar decisões e com dignidade seguir sua vida. E como consequência vai tirar a vida de uma pessoa que diz amar. Mas que não amam de verdade...é tão somente um sentimento de posse. Porque o amor sincero e verdadeiro aceita e não mata.

Por isso volto ao inicio do meu post. Ninguém é de ninguém. Ninguém tem o direito de tirar a vida de outra pessoa. Mesmo que o coração doa. Mesmo que essa pessoa vá embora e no nosso peito e coração não se entenda. Mesmo que pareça insuportável viver sem aquela pessoa. Mesmo que durante muito e muito tempo, nosso coração chore de saudades dessa pessoa. Mesmo assim. Ninguém é de ninguém e quando se ama de verdade, aceitasse e seguimos com nossa vida. Porque na realidade, nem da nossa vida somos donos. E o tempo que estamos cá neste lindo planeta, deveria ser vivido com amor, coragem e dignidade. Matar é o pior ato de cobardia.





quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Psicólogos e Psiquiatras

Psicólogos e Psiquiatras. Sabemos as diferenças que distinguem as suas áreas de actuação do foro emocional e psiquiátrico. Ambas trabalham a mente. Ajudam ao equilibro. Seja por palavras, seja por medicação. A cada dia estas duas áreas, que a meu ver são um pouco desconsideradas em Portugal, deveriam acompanhar o ser humano, incluídas no nosso sistema de saúde nacional.

Cada dia verifico a falta que faz estas duas áreas na vida de cada um. Especialmente o psicólogo que numa fase inicial pode ser uma mais valia na condição humana, no entendimento das emoções, no controle do desespero, ansiedade e depressão. E quando já não vai lá só com desabafos e entendimento, recorrer à medicação, para recuperar a normalidade.

Noutros países, estas duas áreas são super valorizas. Porque nesses países consideram os psiquiatras e os psicólogos fundamentais. Em Portugal sinto que estamos ainda numa fase embrionária mas que a cada dia é mais essencial. 

Não deveríamos ter medo de falar da dor, dos pensamentos que nos assaltam a mente e por vezes dominam nossa vida a ponto de cometer os piores dos crimes, tirando nossas vidas e recorrendo à morte, como ponto final do sofrimento.

Estamos tão absorvidos no dia a dia, que nem percebemos que na nossa vida há tantas coisas fundamentais que circulam ao nosso redor. Precisamos de contabilistas, advogados, médicos e parece que pouco queremos saber sobre os psiquiatras e os psicólogos.

Vejo contudo grandes desenvolvimentos, a busca por ajuda e com isso tentar travar nossa pior inimiga,  que é a nossa mente.

Esperemos que se continue a evoluir no sentido de se recorrer sem medo ou preconceitos a estas duas áreas fundamentais da saúde, porque a evolução que nossa sociedade tem acompanha a solidão, a dessensibilização, o vazio e o medo. Para que a morte não seja mais a resposta, esperemos que a procura destes profissionais da saúde mental, aumente e sejam encarados como solução para os males da emoção.

Não sou psicóloga, nem tenho ninguém na família que o seja, por isso não estou aqui a tentar promover ninguém, mas sou alguém que sofre com depressão por vezes e sei o quanto custa lidar sozinha com tudo e  o quanto a ajuda destes profissionais pode ser o amparo em tempos de verdadeiro medo e terror. E é neste sentido que aqui deixo meu registo. Procurem ajuda, existem profissionais competentes prontos para ajudar. Porque nunca será tarde demais...


segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Família


Tem coisas na vida que por vezes não valorizamos o suficiente. Sobre a minha perspectiva, a minha família sempre esteve lá por mim. Quase tão natural como respirar. E talvez por isso, por ser tão natural, eu sempre a dei como garantida. O amor que nos unia e que de certa forma ainda nos une é maior do que qualquer quezila que ocorra. Mas dei como garantida todos estes anos, porque eu sempre senti o amor que havia. Senti...até ao dia em que minha mãe morreu. Desde esse dia, a família transformou-se em algo que ainda hoje tento assimilar e entender, para qualificar, mas que não consigo. Minha mãe era o pilar principal. Educou-nos com amor, e com amor fez-nos relativizar o que não era importante, dando sempre prioridade aos laços, à moral, à humildade e aos sentimentos. Eu e minhas irmãs guardamos para nós esses laços profundos que nos une desde crianças e que unanimemente prometemos à nossa mãe que assim o faríamos, ainda que por vezes discordemos de algo. 

Mas meu pai...meu pai cortou esses laços. Ainda hoje não o consigo entender. Por mais que tente aceitar que ele tinha todo o direito de refazer a vida dele como desejasse, não consigo afastar a noção que egoisticamente ele cortou os laços que nos unia. Desrespeitou a memória de nossa mãe e deu poder a alguém que hoje não tenho palavras para qualificar. Só me ocorre caus...porque foi só isso que trouxe para nossas vidas...caus.

É então que o entendimento do conflito, a dor que as decisões de um pode influenciar a vida de outros, toma outra dimensão. No passado questionei meu ex-marido como poderia ele construir algo sobre ruinas, quando o via andar de relacionamento em relacionamento. Ele não me respondeu. 

Como podemos reparar algo cujos pilares foram fortemente danificados e estão frágeis? Podemos construir nossa felicidade sobre a infelicidade de outros? E no entanto, teremos nós o direito de travar a felicidade de quem a procura?

É nesta fase da minha vida, com 46 anos de idade e com pesar no meu peito, percebo que a minha família, aquela que eu tinha como garantida não a tenho mais. Minha mãe morreu e nesse dia levou meu pai com ela. Aquele que ficou cá não honrou mais seu papel, não respeitou os seres que colocou no mundo e que com muito amor no coração o considerava um herói. 

Percebo agora que era apenas um homem miudinho, cuja dor e sacríficos que teve na vida, sobrepôs-se às alegrias de família. Das risadas das suas crianças, do sorriso cândido e o amor incondicional de nossa mãe para com ele. O respeito e admiração. Ele deixou morrer tudo isso e ficou um ressentimento por algo que não sei sequer entender, mas que é só assim que vejo, por forma a assimilar o porquê de casar de forma tão precipitada com alguém que não conhecia de lado algum e a ela entregar sua vida e seus bens. Foi cego e tristemente compreendo o quanto foi burro. A pequenez de sentimentos ou até a falta deles não o fez ver a razão e a lógica e deixou-se levar pela estupidez.

Apesar de tudo, estou grata por minhas irmãs, rochas sólidas de amor incondicional. Estamos unidas agora mais do que nunca, por um amor maior que aquele que nos une por sermos filhas do mesmo pai e da mesma mãe. Algo maior que o sangue une estas três guerreiras e no nosso pensamento está nossa querida mãe. Todos os dias em nossa vida.

E esta é agora a família que fica. A que realmente conta. Que acalenta o coração e que ninguém ousará mais quebrar. E por essa família que ficou eu estou imensamente grata.

terça-feira, 18 de agosto de 2020

Mãe


Ainda sonho contigo. Estás quase sempre em casa, envolvida nas tuas tarefas. Não falas comigo mas sorris imenso. Em alguns sonhos menos bons, andas no meio daqueles dois e eu questiono-te porque andas ali, no meio do teu marido e da outra com quem ele casou e como um cancro se infiltrou em tudo.

Sei que sonho, porque queria ter-te cá. Porque as saudades são tão grandes e tem dias que mal se consegue lidar. E eu tenho saudades tuas mãe...imensas...

Perdi meu porto de abrigo quando partiste nessa viagem sem retorno. Fiquei sem chão e mal me seguro para viver. A corda que me suporta e prende aqui é forte e resistente, eu sei disso, mas tem dias que são simplesmente difíceis.

Queria ter-te cá. Evitaria tanto transtorno e dores de cabeça.

Ontem, pai estava contigo na mente. Alias, quase todos os dias, lá manda eu chamar a mãe. E não penses que apesar da demência dele, ele te confunde com o cancro que casou, nem pensar mãe. Mesmo demente ele sabe que ela não és tu. Sabe que nunca será...

Já nem questiono porque ele cometeu tal crime hediondo pondo aquele ser na nossa casa. Mexendo nas tuas coisas, partindo, estragando, negligenciando... Desisti de perguntar, porque só penso na hora em que ela vai à vida dela, e nos deixe livres da sua presença. Se Deus assim quiser e a justiça funcionar, assim ocorrerá em breve. 

E depois, ficas tu, tua memória viva em nós, tuas filhas, teus netos e netas. No pai que pergunta onde andas, tantas e tantas vezes, que me parte coração ter de lhe dizer que a minha querida mãe já morreu...

Onde quer que andes, ainda que teu corpo repouse naquele jazigo há 14 anos, quero acreditar que teu espírito ou energia voa por ai, livre, sereno e feliz. Porque em vida foste sempre um modelo de amor e bondade e depois que foste embora, não quero esperar nada diferente do que a plena felicidade e tranquilidade para ti.

Continuam as saudades até que um dia nos encontremos novamente... 

I love you Mon.


quinta-feira, 9 de julho de 2020

As lágrimas de meu pai

Tu falhaste. Trouxeste até ti o demónio. Abriste-lhe a porta e não só o deixas-te entrar, como ainda lhe serviste um jantar digno de um rei. Deste-lhe poder. Entregas-te a tua vida nas suas mãos. Sim, tu falhaste.

Viraste costas ao teu sangue. Viraste costas a uma companheira de uma vida, com quem tudo construíste lado a lado. Viraste costas a quem ainda te ama de verdade e com carinho te chama pai.

Não te conheço mais. Tua mente partiu para o desconhecido e tem dias que não sabes quem és, nem quem somos. Não percebes agora o erro tremendo que cometes-te, assim que mãe morreu. Não percebes que és vitima de alguém que tu mesmo colocaste dentro de tua casa. Uma cobra venenosa.

Acordas todos os dias encharcado em urina e fezes. Dormes sozinho e abandonado num rés do chão. Tua alimentação é deficiente e sem qualquer rigor nutricional. Tomas medicação acima do que deverias, porque segundo tua esposa atual, és agitado e precisas de estar sempre a dormir.

As vezes que já foste parar ao hospital por causa desta duplicação de comprimidos para dormir, foram já mais que muitas e apesar de todos, incluindo os médicos, perceberem o que se está a passar, o demónio que colocaste dentro de tua casa continua a usurpar do poder e confiança que lhe deste para justificar suas atitudes maquiavélicas.

Temos vontade de te tirar deste inferno que tu mesmo te colocaste, mas a lei prende nossos movimentos. Apresentamos queixa de violência doméstica, mas para a lei, só a que envolve porrada e maioritariamente contra a mulher é que tem peso. Tu escolheste assim, diz a policia. Mas tu pai, estás com demência, como te podes defender agora? Como podemos nós, tuas filhas te defender?

Todas as tuas economias, de uma vida, foram roubadas de uma só vez. Essas nunca mais as verás e Deus permita que não precises de dinheiro para algum tratamento ou cirurgia, porque não tens como. Tua esposa roubou tua dignidade e possibilidade de sobrevivência e continua a dizer a todos que o dinheiro também é dela. Não tem honra, carácter ou dignidade. Ainda que fosse verdade, que tipo de pessoa rouba a um doente com demência?

O dinheiro é dela também - dizem os filhos dela. Mas a verdade é que o dinheiro é do meu pai, e o dela, esta confortavelmente depositado numa conta só dela ao qual o meu pai nunca teve acesso. Já o dele, confiou que ela o fosse proteger e ajudar, mas a verdade nua e crua e que ela entrou neste casamento para te destruir e lapidar tudo o que com muito custo, ao longo de uma vida construíste. Existem pessoas assim...

Estás agora sem poder de defesa. Nós também não temos como te ajudar. 
Só nos resta esperar que o tribunal nos ajude e resta-nos limpar tuas lágrimas, que quando tens os teus breves momentos de lucidez, libertas e nos dizes com pesar, pf tirem-me daqui.


segunda-feira, 6 de julho de 2020

Há espera de justiça

Poderia ser um enredo de uma novela. Poderia ser argumento de um filme de mistério e drama. Poderia ser um livro. Mas a verdade é que se trata de vida real, com pessoas reais, e infelizmente envolvem minha família. Mas tem cá tudo nesta narração de vida. Tem as filhas sem a mãe, que morre de forma inesperada, tem o pai que resolve casar novamente ao fim de seis meses da morte da mãe. Tem a madrasta suspeita, com aspeto e ações de bruxa má. Tem o roubo das contas bancárias. Tem o afastamento do pai das suas filhas. Tem a tentativa de deixar o desgraçado doente e quase morto. Tem 3 filhas que tentam fazer tudo para salvar o pai deste inferno, assim como assegurar que seu património não seja ainda mais destruído e lapidado. Em resumo, tem tudo...até toda a injustiça que tudo isto envolve. E apesar de gostar de um bom livro e filme com todo este drama, asseguro que jamais desejaria isto para mim e para minha família. Viver na pele toda esta injustiça. Atrevo-me até a dizer que nem ao meu pior inimigo desejaria algo assim. A sensação de impotência perante as coisas é enorme. Os dias passam, a justiça tarda e continuamos aguardar que se a justiça dos homens falhar, que pelo menos a justiça divina intervenha. Sim, estamos há espera de um milagre.

Antes de hipoteticamente assaltar à mente a questão de que talvez estarei a ser radical nas minhas observações e descrição do que estamos a passar no momento, asseguro que mesmo apesar de não concordar com este matrimónio, aceitamos a decisão de nosso pai. Apesar de acharmos que esta senhora tinha ar e carácter duvidoso, demos-lhe o benefício da dúvida.

Mas a vida tem formas engraçadas e um tanto mordaz de nos fazer ver e trazer à luz do dia as atitudes medíocres, incorretas e totalmente cheias de maldades desta senhora que casou com meu pai e de seus filhos. Fez-nos chegar às mãos a confirmação de que meu pai estava a ser drogado com excesso de comprimidos para dormir. Chegou-nos às mãos confirmação bancária do roubo de todo o dinheiro da conta do meu pai.
Como é possível roubar a conta, podem questionar? Eu digo...conta solidária. Deus como meu pai foi burro...

Tivemos confirmação de que o dinheiro foi usado para pagar dividas da filha mais nova da nossa madrasta e ainda para que esta criasse uma empresa (que para que não tivéssemos forma de hipotecar, está em nome do sogro dela) e entrega sabe-se lá desde quando o cartão MB do meu pai, para que a filha mensalmente use e abuse do dinheiro que meu pai recebe de reforma. E meu pai come enlatados, bolachas de água e sal, chá e pouco mais.
Mesmo depois de termos confirmado e serem admitidos pelas ladras, estes roubos, a dita filha, ainda retira 900€ da conta. Pois é...eu sei, sem palavras...

Agora entramos com ação em tribunal e estamos no limbo, pois tecnicamente ela é casada com meu pai e vai-se lá perceber isto, tem direitos. E esses direitos, são superior aos direitos dos filhos de agir e salvar a vida do pai e seu património. A injustiça é tanta que chega a causar palpitações cardíacas, stresse, ansiedade, falta de apetite e uma vontade enorme de desistir...Mas como é que a justiça é tão cega assim? Quem inventou estas leis?

Este limbo é infernal. Atroz. Devastador. Procuramos justiça. Manteremos a esperança de que Deus nos ajude, porque nas missões impossíveis, parece que o inexplicável por vezes ocorre e dão-se verdadeiros milagres. E eu quero tanto acreditar em milagres...


terça-feira, 9 de junho de 2020

Já não sei o que é amar

Meus pais conheceram-se na escola primária. Meu pai, mais velho um ano que minha mãe, contava que olhava para a "carinha redonda e fofinha" da minha mãe e à medida que os anos passaram, ele dizia a todos que um dia casava com ela. 

Distanciaram-se por algum tempo na adolescência e inicio de fase adulta, e certamente tiveram seus namoricos, mas aos vinte anos, a vida voltou a junta-los numa destas festas tradicionais e nunca mais se separaram. Casaram num espaço de um ano e tiveram sua primeira filha. Um ano depois veio minha irmã do meio. Meus pais tiveram seus problemas, enfrentaram desemprego, situações de doença, mudanças inevitáveis, mas mantiveram-se sempre juntos. 

Seis anos depois de minha irmã do meio, eu entrei no cenário familiar, muito a contra gosto de meus pais, porque era mais uma boca para alimentar. Estávamos em 1974 e quem vive em Portugal e conhece nossa historia, sabe que foram tempos complicados para todos, antes e algum tempo depois. Mas a vida seguiu seu percurso.  Meu pai emigrou para Zurich, procurando dar uma vida melhor à família e minha mãe, lutadora, ficou cá com seu trabalho e 3 crianças pequenas para educar e criar.

Guardo verdadeiras preciosidades como memórias ricas de uma vida feliz até meus 11 anos. Apesar de muito doente, meus pais estiveram sempre na luta para que eu pudesse sobreviver à doença e hoje estou aqui graças a essa luta. Minha gratidão é mais do que imensa e jamais terei como agradecer o que fizeram por mim. 

Minha mãe morre aos 62 anos, vitima de negligência médica. Foi um choque para todos, algo difícil de esquecer e superar. O vazio que deixou, nada preenche e a vida, depois de perder nossa mãe nunca mais voltou a ser a mesma.

No dia em que minha mãe morreu, meu pai, aquele que eu conhecia, morreu com ela. Dali surge um novo homem, egoísta, violento, que nos afastou e casou com uma estranha, colocando-a na nossa casa, permitindo mexer no que era da minha mãe, sem questionar...

Dali vieram as discussões, os nossos porquês sem resposta e só ouvir que minha mãe era agora pó e que ele tinha direito de viver a vida como queria. Sim tinha, mas não a pisar a memória de nossa mãe e tudo o que com ela construiu. Não a pisar suas filhas. a afastar-se delas como se fossemos leprosos.

Passaram 13 anos desde aquele casamento apressado e hoje está demente, a carecer de cuidados de terceiros. Limpamos seu corpo debilitado, quando se suja como se fosse um bebé. Partilhamos tarefas com a sua segunda esposa, que por negligência e total falta de moral, destruiu nossa casa, danificou/partiu/perdeu as coisas que eram de minha mãe e alegando que fora por engano, andava a drogar meu pai com comprimidos para dormir. Foi parar demasiadas vezes ao hospital de urgência. 

Agora é que percebemos que um dia, quando falecer, teremos de dar a casa a este ser, que lapidou as contas do banco, deixando meu pai sem dinheiro algum. Que nos esconde quanto ganha de reforma, para nos obrigar a pagar por coisas, alegando não ter dinheiro. E nós filhas, sangue do sangue dele, não temos poder, algum, para o libertar deste pesadelo que ele próprio criou, nem nos libertar dele também. A lei, cega, não deixa e está neste caso, do lado que quem faz mal...

Agora eu pergunto, para onde foi o amor? É que com tudo o que vivemos desde que minha mãe faleceu eu digo que já não sei o que é amar... Meu pai, certificou-se que aprendêssemos duramente mais esta lição de vida...eu já não sei o que é amar...

quinta-feira, 4 de junho de 2020

As teias de quem te aponta o dedo

Seria de esperar que com a idade, toda a maturidade, lógica de pensamento, não me deixasse cair nas teias de quem tem sempre algo para dizer sobre mim e sobre como deveria viver minha vida.

Por vezes questiono, com que raio é que eu me deixei levar no que as pessoas pensam de mim, sem sequer me conhecer de verdade e sem sequer avaliar com bom senso? Como é que deixei a coisa nefasta fluir e comecei a acreditar, não no que eu sei ser verdade e na pessoa real que sou, mas com o que as pessoas pensam de mim? Pessoas que se eu analisa-se com mais cuidado teria percebido desde inicio que tinham algo contra mim, ainda que eu, nunca tenha feito absolutamente nada de mau para isso acontecer. Pessoas que, normalmente eu jamais queria ter por perto.

Eis-me que com toda esta passagem de depressão e angústia, vejo-me no centro de uma ideia criada sobre mim, com base em pessoas que lá vão apontando o dedo. 

"Pareces burra mulher, como é que te esqueces das coisas?"
"Como é que baralhaste o preço disto com aquilo?"
"Porque é que tens medo do futuro?Estás parva? Com todo o dinheiro que tens?"
"A mulher é limitada, porque não acertou com o endereço de email e este veio devolvido.."
"És burra? Então não sabes que a depressão é coisa de gente desocupada, feia e sem futuro?..."

Passo a minha vida nisto, a ser julgada, contestada, a não entenderem na verdade o que é a depressão e que esta pode acontecer a qualquer pessoa. A julgarem os outros, só porque a vida a estas pessoas parece agraciar sempre, que mais parece que do seu traseiro saem raios de luz e o raio do arco íris completo. 

Vive e deixa viver, é meu lema. Não julgues, porque um dia vais ser julgado. 
Mas, no entanto, eu tornei-me naquelas pessoas que sem auto estima, vai acreditando no que dizem e parece que nunca mais consegue sair das teias de quem aponta o dedo, acreditando de que elas é que vêm quem eu sou, e quando olho no espelho, esqueço meu verdadeiro eu, e visto a personagem de quem me vê e julga.

Será que algum dia acordo deste maldito pesadelo, e volto a ser a mulher guerreira que sempre fui?







quinta-feira, 14 de maio de 2020

Valentina

"Quando me abraçavas, pensava no amor que sentias por mim, mesmo que ás vezes desses a entender que não me querias por perto. Pensava que aquele abraço, era a representação da segurança e tranquilidade que tu devias ter para comigo, porque foi também de ti que eu nasci e tu eras meu porto de abrigo...estava enganada...
O amor, sentimento puro de cuidar e proteger, era um tanto  diferente para ti e na minha inocência eu não via essa diferença. Não entendia que o amor não deveria ser toda aquela indiferença que me davas. Da mesma forma que não entendia, quando preferias ralhar, em vez de conversar. Quando dos teus olhos saiam expressões de maldade, quando da tua boca atiravas ao mundo teus monstros demoníacos, sobre forma de palavras. Tu assustavas-me, mas ao mesmo tempo eu era empurrada para ti e não tinha como dizer não.  
Tuas mãos e teus braços, que deveriam ser somente para me levantar no ar e brincar comigo,  para me abraçar e cuidar de mim, viraram armas e eu tenho medo. Quando olho para ti, sei que te amo, mas tenho medo de ti. 
No fundo eu sei...sempre soube. Olhas para mim como alguém que não deveria existir, mas eu continuo na minha inocência a achar que talvez eu esteja errada e tu sejas mesmo meu porto de abrigo... e as pessoas continuam a empurrar-me para ti, mesmo quando eu digo que tenho medo. Será que alguém me ouve?...Alguém?... Porque me mandam para esta casa? Porque não me protegem?
Quando começaste a ralhar, desta vez com mais agressividade, meu medo aumentou. Ralhas e bates, ralhas e bates. Dizes disparates, acusas, culpas...consegues te ouvir? Sabes o que estás a fazer? Meu corpo frágil não aguenta...Quando te olho, apenas pergunto porquê? Mas porquê?...
Dá-se então um espaço de tempo, onde não consigo perceber o que se passa. Dói tudo, mas dói mais meu coração...está despedaçado...desiludido...desfeito... 
Quando desperto daquela sensação de dormir, já não estou mais naquela casa de tortura, e tu já não estás mais aqui. Deveria ter medo de estar sozinha, mas há uma paz aqui que não entendo. Quero correr para os braços de quem me ama de verdade, mas também não os encontro. Aqui não sinto mais a dor pelo corpo, pelo contrário, sinto-me leve e embora estou sozinha, não tenho mais medo. Estou em segurança. Aqui já não tenho mais de ver os monstros. Monstros esses que não saíram das histórias dos livros, que tinham cabeças e dentes grandes e me causavam pesadelos, mas os monstros que andavam à minha volta e maltratavam. Aqui já não há monstros..."

" Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro, mas a real tragédia da vida  é quando os homens têm medo da luz." Platão

terça-feira, 5 de maio de 2020

A Rainha

Surge alta e majestosa. Entra sem cerimonia ou pedir licença, porque sabe que é a rainha. Sabe que é ela quem manda, que se impõem. Quem ousa fazer-lhe frente?

Não selecciona quem vai martirizar, porque não é a pessoa que interessa, é o martirizar em si que lhe dá prazer e soberania. Olha com desdém a todos e quando percebe que alguém está a tentar sair do seu jugo e domínio, ela vai e impõem-se um pouco mais,  com crueldade e sem piedade.

Alguns tentam por anos, lutar contra ela. Fazem frente ao seu desdém, mas ela sempre fica nas pessoas que alberga para si. Seja de forma mais dura e cruel, seja de uma forma menos severa. Uns baixam os braços e deixam-se ir e ali ela não só é cruel como suga para si aquele espírito e energia, como se fossem prémios da sua devastação. Recolhe-os no seu seio com uma garra e apetite feroz.

Já a mandei à merda hoje, várias vezes até, mas olha para mim com o mesmo nojo, como eu me sinto. Anda aqui ás voltas, feliz e contente a cantar, abanando o seu vestido, como se fosse uma criança feliz a saltitar à minha volta. Pára por vezes para deliciar-se com minha tristeza e minha total incapacidade nesta fase, de a enfrentar. Eu choro e aninho-me no chão frio, onde acima de mim, paira aquela nuvem cinzenta, e ela continua a sua dança, à minha volta, encantada. 

-Criei um fosso para ti. - dizes sem qualquer piedade. - E vais para lá não tarda nada. - avisa.

Eu olho para ela, sem reação e questiono se algum dia vou ser capaz de a enfrentar e dizer : Já não tens poder sobre mim. 

Mas hoje...hoje não é esse dia. Quem sabe amanhã...



segunda-feira, 4 de maio de 2020

Fuck you envelhecimento

Entrei no processo de envelhecimento. Já aqui expressei que odeio esta parte da vida. Envelhecer retira de nós muitas coisas, para além da juventude. Está a ser um processo difícil. Tem dias que não consigo sequer funcionar e obrigo-me a isso, mas com inúmeras dificuldades. Começou pela memória que no inicio era algo esporádico, para agora estar com graves dificuldades em "armazenar" minhas ideias, experiências, pequenas coisas do dia a dia. Simplesmente perdem-se. E como se a falta de memória não fosse já de si um problema grave, caiu esta depressão horrorosa, que me retirou a alegria que tinha e deixa-me prostrada, com medo e sem reacção perante a vida. E com a minha mente num estado de guerra permanente, tudo à minha volta começa a sentir os efeitos. 

Minha casa apesar de um tanto controlada, está longe de ser o que era. Sempre senti orgulho em manter a organização e o rigor. Entrar em casa e sentir a mesma limpa, a cheirar a limpo. Agora??? Pois...nem comento...

A roupa é lavada nas últimas e armazena-se nos cestos. E como eu comprei um cesto para cada tipo de roupa, claro que quantos mais tenho, mais encho de roupa e os espalho pela casa. Por seu lado tenho as gavetas vazias, a roupa  a ser usada sem sequer passar e tudo isto porque minha mente, por vezes, não me deixa sequer mexer.

Estas coisas banais, corriqueiras do dia a dia, pode até parecer ridículo, serem negligenciadas nesta fase e pode até soar como preguiça, mas vai muito para além disso. Não é preguiça. É uma mente que me empurra da cama para o sofá e só de lá levanta, quando tem mesmo de ser... e por Deus, lutar contra tudo isto é uma luta tão desumana.

Tem a ansiedade, que me dá verdadeiros ataques de pânico, o stress diário. As insónias constantes. O exagerado aumento de peso.
Tem as cismas nas coisas mais parvas. Uma carga mental absurda que me leva ao desespero. Tenho tantas vezes vontade de gritar.

Tudo isto é um processo desta maldita Pré-menopausa que inevitavelmente tinha de aparecer, porque a idade avançou e trata-se de algo normal na vida de cada mulher. Mas é uma verdadeira merda.

É tão claro o quanto, há medida que fui crescendo, eu sabia que iria odiar esta fase. Simplesmente não sei envelhecer, mas tenho de aceitar é claro e lutar contra tudo isto, seja por meio de medicação ou por meio de medicinas alternativas, sei lá eu, mas tenho de tentar. Para além de tudo o que estamos a viver com este vírus horroroso do Covid-19, este 2020 tem sido ainda mais complicado, quando a juntar a todas estas medidas, quarentena e tudo mais, juntamos uma pré-menopausa, com depressão associada. É de enlouquecer.

Não tenho conselhos a dar para quem vai passar por esta fase, ou como eu, estão na merda, no fim do poço agora. É literalmente e no sentido da palavra, viver um dia de cada vez. Tentar que o próximo seja um pouco melhor que o anterior, mas que no meu caso, não tem sido. 

Meu maior medo traduz-se agora no medo que eu nunca mais volte a ser a mulher que era e isso é o mais assustador de tudo isto, porque algo me diz que não serei e eu já odeio esta que por aqui anda. E para quem diz ou acha que envelhecer é um privilégio...Bahh a sério?|

segunda-feira, 27 de abril de 2020

A Anatomia de uma dor

" Nunca ninguém me disse que o sofrimento é como ter medo." C.S.Lewis

Longe das aventuras de Narnia, C.S.Lewis, escreve : "A anatomia de uma dor - A Grief Observed " no original, após a morte da sua esposa Joy. Mergulhado durante uma longa vida no seu trabalho como professor Universitário, na sua escrita, Lewis olhava a solidão como amiga e não se importava de permanecer nela, em seu próprio mundo, porque até ali não tinha vivenciado o verdadeiro amor. 

Mas Lewis acaba por o conhecer, quando inicia uma troca de cartas com uma poetisa de seu nome Joy, e um amor surge entre ambos, quando ambos menos esperavam e Lewis conhece o sentimento mais grandioso de todos e aquele que na verdade é o mais importante. 

Infelizmente a vida não presenteou Lewis com um amor longo e duradouro. Joy faleceu poucos anos depois e toda aquela dor fez Lewis escrever um dos livros mais honestos e sentidos que podemos ler na nossa vida. Quando terminei de ler, senti o verdadeiro poder das suas palavras. Como se eu estivesse ao lado dele, quando as escrevia, vivendo aquela dor. Reconhecendo nela a minha própria dor.

Sem querer ser a coitadinha, a quem a vida maltratou, porque eu sei que tem outras pessoas em que a vida foi muito mais madrasta e cruel, reconheço a anatomia da minha dor e o que me trouxe aqui. Falar sobre ela é aceitar, é entender que tudo é como é. Que podia ter sido diferente, mas não foi nem vai ser. É entender que nunca pedi à vida, nada que ela não pudesse retribuir, mas simplesmente não tinha de ser assim. Estou certa que muitos nós que aqui andamos, nunca iremos lá chegar, nem tampouco ter o que desejamos, por mais que tentemos e por mais que se lute. É verdade que devemos ser persistentes, não desistir. É verdade que devemos ambicionar algo sempre mais, tentar realizar nossos sonhos e objectivos, mas entendo que, temos de ter sempre os pés na terra, voar sim, mas com a consciência até onde podemos voar. Porque pura e simplesmente pode não fazer parte da nossa história voar para além de...

É duro? É. 
É injusto? É.

A verdade é que um dia o véu cai, deixamos de olhar as coisas com a ilusão da esperança e aprendemos a ver as coisas como são na realidade. Viver a partir daí torna-se a nossa verdadeira batalha, porque andamos nus nesta vida. E não vai haver quem venha sobre as nuvens para nos salvar. Estamos na verdade sempre sozinhos...

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Luz ao fundo do túnel


Não foi difícil para mim aceitar que estou com depressão. Também não neguei a mim mesma que precisava de ajuda e que sozinha não ia lá. 

Havia algo mais a impulsionar este meu estado nos últimos tempos. Andar triste e desanimada é algo que pode acorrer na vida de todos, por qualquer situação menos boa que aconteça, mas andar todos os dias com sensação de inutilidade, com medo de viver, com choro permanente, sem razão aparente, tudo isto e muito mais, claramente mostra que temos de agir, antes que seja tarde demais. Felizmente no meu caso, apesar do desespero que tenho vivido nos últimos dias, percebi que tinha de recorrer a ajuda médica.

A luz ao fundo do túnel veio, com a informação sobre o que se passava e como um estado normal da vida, o envelhecimento, a pré-menopausa, altera nosso cérebro, altera nossa componente hormonal e aumenta os estados de tristeza. No meu caso houveram também acontecimentos externos a estes sintomas, que ajudaram há queda e por Deus, como eu cai...

Não vai ser uma batalha fácil e sei que tenho de tomar decisões que não serão nem fáceis de tomar, nem tampouco fáceis de entender, por quem não está neste lado, mas terá de ser. Minha felicidade tem de ser agora a prioridade, porque se eu estiver bem e feliz, tudo a minha volta capta essa energia positiva e vai correndo pelo melhor. Tenho fé nisso e já o vi a acontecer antes. Ainda que não seja como idealizamos, mas a vida é como é. Se doí saber que determinadas coisas estão vedadas para mim, inacessíveis? Sim doí, mas a aprendizagem aqui é perceber que essas coisas podem ser substituídas por outras que nos façam felizes, aquelas coisas mais pequenas, que nos trazem tranquilidade e paz. E que são diferentes para cada um, segundo nossas próprias experiências.

Sempre achei que a vida manda estas provações para nos tornar mais resilientes e minha vida tem sido uma sucessão delas, mas também sei que sempre estive consciente de que um mar de rosas a vida não é e que de todo o mal temos de tirar um lado bom. Há sempre algo a aprender em tudo.

Vou fazer medicação, para controlar a componente hormonal, para ajudar a repor os níveis normais no cérebro e vou tomar ainda medicação para a depressão. E esperar que este cocktail de drogas coloquem novamente a guerreira em mim e que volte a ser a mulher que sempre fui, lutadora, com objetivos definidos.

Nunca tomei medicação a este nível, e sinceramente não me agrada, mas andar todos os dias com sensação de desespero, inutilidade, choro compulsivo é bem pior, que não quero voltar aqui. Não quero voltar ao estado vulnerável e achar que a vida terminou, porque enquanto eu respirar, enquanto eu poder fazer tudo o que me torna um ser humano normal, irei fazê-lo, porque quando morrer, não tenho mais nada e isso, certamente, pode esperar. Eu ainda estou aqui...

domingo, 19 de abril de 2020

Ficar a ver a vida passar

De forma passiva, sem mexer um dedo, porque a mente não te permite sequer movimentar, ficas parada, quieta, a ver a vida passar ao lado. Não reages, não há como. Esta mente inimiga já sugou tua energia à muito, e agora a única coisa que fazes é respirar... Por enquanto... E a vida vai acontecendo, tu vais envelhecer, não há mais nada para ti a não ser isto??

sexta-feira, 17 de abril de 2020


Male mundi ut interficias me solitudinem et dominus haberi contemptiu , venite ad me adflictam in area griseo et cor tuum vacua mentis hostium. 

"Mundo enfermo que me matas de solidão e sem amor, que me deixas prostrada no chão cinzento com o coração vazio e uma mente inimiga."

terça-feira, 14 de abril de 2020

No meio da tempestade

Já não me reconheço. Quem vejo no espelho não é a mesma mulher que ainda há uns meses atrás, vivia tranquila na sua vida pacata, serena, mas com a esperança estampada no rosto. Tinha planos, objetivos.
Quem eu vejo agora é um espectro dessa pessoa. Uma mancha acinzentada da mulher que eu fui outrora.

Estou derrotada, aceito isso. Esta doença mental que por vezes aparecia, mas que não passava de uma visita esporádica e de pouco tempo, desta vez está presente e convicta de que me derrubou. Tenho em mim uma tristeza constante. Choro sem razão aparente. Não vejo nada de bom na vida que levo, não encontro motivação, alegria...

Para fingir que está tudo bem, junto de quem me rodeia, lá visto a fantasia da mulher que todos estão habituados a ver, mas se soubessem...

De manhã, não é só a roupa que coloco no meu corpo, coloco também um sorriso forçado no rosto, um ar de quem está no controle, mas na verdade está muito longe disso. Saio para a rua porque o dever chama e há contas para pagar...ainda por aqui ando, e só Deus sabe até quando...

Aceitar, tornou-se uma batalha para mim. Todos os segundos do dia (sim porque a vida agora, nesta condição é vivia ao segundo, cada segundo é a personificação de dor e tristeza) todos estes segundos que eu vivo, eu grito com a minha mente, aceita, por favor aceita. Para que pare a dor, este cansaço do medo, do desespero. Mas não pára, apenas fica estagnada, pelos segundos, que viram minutos e horas, onde minha mente se ocupa com algo e me faz esquecer.

Um propósito, um objetivo, um caminho a seguir. E tudo poderia ser tão diferente. Um olhar, um carinho, umas mãos no meu rosto, uma boca que num sorriso terno e amoroso me diz : Vai correr tudo bem. 

E as lágrimas caem de dor e tristeza, pelo que perdi, pelo que vivi, pelo que nunca tive. E lá vou perdendo a batalha do aceitar. Mas quem no seu juízo quer aceitar isto?...

É então que percebo que minha inimiga é mais poderosa do que eu e as armas que eu pensava ter para lutar, não são suficientes e ela está a um passo de vencer. Tem coisas que não consigo aceitar e o processo torna-se mais pesado, fazendo-me arrastar um peso enorme, como correntes aferrolhadas a mim. Isto não é viver... 

Sinto-me no meio de uma tempestade de areia, daquelas que não se vê um palmo há nossa frente e já só peço que eu consiga sair daqui... por Deus, alguém me tire daqui...


segunda-feira, 6 de abril de 2020

Get the fuck out

Há noite, quando deito, nunca deito sozinha. Estás lá tu e mais umas quantas pessoas; ás tantas está lá tanta gente que o meu quarto não consegue albergar. Por vezes grito : Get the fuck out, mas já sabemos que a nossa mente é nossa inimiga e, bem no meio do quarto, enquanto cada uma das pessoas lá se aglomera, está a majestosa, sentada no seu trono, a rir para mim, a zombar da minha pequenez, porque não vou conseguir lutar contra ela. Já não tenho forças...

E a cada instante, eu acrescento mais alguém àquela orgia mental, onde não se faz sexo, mas cada um tenta me humilhar ainda mais, e eu grito, choro, fecho as janelas, para que a luz não entre e eu não tenha que encarar todas aquelas pessoas que eu trouxe para a minha mente. Deixo-me ficar deitada, debaixo dos lençóis escuros, dentro de um quarto vazio, sem luz. Não como, nem sequer me levanto.

Sinto-me uma merda, não tenho forças, não consigo encontrar algo de bom na minha vida e deixo-me morrer naquele quarto vazio... Depois, a bipolaridade envia o seu lado eufórico e surge altiva e cheia de força, que me injeta adrenalina, só pelo facto de que fui tomar um duche para acordar daquele sono lento de desespero e tristeza. Para a casa de banho, tento não levar aquelas pessoas todas ( é bem mais pequena que o quarto caramba) e lá consigo controlar a mente, deixando a água correr e desejo que esta leve os pensamentos negativos, as sensações más pelo cano abaixo e aos poucos a razão e lógica vem até mim e consegue deixar a luz entrar, só um pouquinho, muito ténue, porque aquele gesto simples ainda não basta para arrumar com minha inimiga e nós sabemos bem como funciona a depressão ou bipolaridade. Visto minha roupa, ao calhas, sem nexo, porque mal tenho já roupa lavada para vestir. Quando olho ao espelho vejo um velha de 70 anos, acabada, gorda e feia. Não encontro em mim qualidades e sou a primeira a apontar meus defeitos, e por Deus, são tantos... Pergunto-me nos meus momentos de lucidez, como carrego tanto...?

Quando saio para a rua, enquanto todos os outros dormem, no seio desta quarentena parva, mas  tão necessária, lá ligo o rádio e tento que a música limpe minha mente, de todas aquelas pessoas, mas onde uma persiste em ficar. Não és tu, porque no momento minha mente obsessiva, a pessoa que se encontra nos últimos dias é alguém que vive sei lá a quantos quilómetros de distância, que não sabe sequer que eu existo, que mais podia ser um habitante de Marte. Mora na minha mente, como se eu fosse uma adolescente apaixonada pelo seu cantor favorito. Por Deus mulher, acorda, tens 46 anos...

Lá grito dentro do carro, GET THE FUCK OUT, mas minha mente é minha inimiga e eu sei que para ficar saudável e arrumar de vez com minha inimiga, eu tenho de agir, tenho de criar um objetivo, eu sei que tenho de lutar, mesmo quando só me apetece agachar e morrer ali.

Não sei se estou depressiva, vazia, ou se sou bipolar. Só sei que odeio estar assim e sei que tenho de lutar, sozinha, no meio desta guerra injusta. Sei o que me assusta, sei no fundo porque estou assim e por vezes aceitar é difícil, como já o tive de fazer antes e sei o quanto custa. Mas tenho de compreender e aceitar. A vida é como é...

Preciso voltar a procurar nas coisas mais simples da vida a beleza delas e ficar feliz, com o que vou conquistando diariamente, porque eu já sei que a felicidade está nas coisas mais elementares, pequenas, mas tão importantes. Se já fiz este caminho antes, deveria ser simples fazê-lo de novo agora, mas confesso que a idade não ajuda, pois envelhecer é uma das coisas que me trouxe aqui e é algo que tenho de aceitar. 

Então lá vou buscar as minhas armas para a luta. Tentar manter a calma, ser paciente e perceber que não vai ser uma batalha fácil, mas assegurar que eu vença no fim, porque é a minha vida e até no meio desta guerra injusta que travo com minha mente, eu ainda sei que viver é a coisa mais linda que temos e que vale ainda a pena lutar por ela. Ninguém, e nem mesmo sua mente, tem o direito de lhe retirar a vontade de viver.

segunda-feira, 16 de março de 2020

As aventuras de um vírus e os parvos da parvónia

Nunca pensei um dia passar por uma situação simular aquela que hoje em dia todos nós vivemos. Não basta o receio de contrair este vírus, que nos pode colocar em perigo de vida, temos de levar com todos estes parvos da parvónia, que nada mais são que ladrões do que é ser humano.

Sim claro, refiro-me aquelas chicos espertos que resolveram ir para o supermercado, como se não houvesse amanhã (e se calhar...) e sem sequer pensar um só segundo nos outros seres humanos, levam tudo à sua frente, incluindo o papel higiénico...

A ignorância é algo assustador nos dias de hoje. Ouço pessoas a discutir, porque querem levar a mais carne do talho e o emprego lá tenta explicar que existem mais cliente.
Entramos no hipermercado a conta gotas, só para nos depararmos com?...Estantes vazias...

Mas o que é  isto? Pensar que se o vírus já assusta, temos também de ficar assustados que um dia destes somos mortos a entrada do supermercado, que com este ritmo, ainda leva a motins?

Quase que sem perceber a revolta vai tomando conta das emoções e fica difícil aceitar...
Fica difícil compreender o vírus e o que está a fazer à humanidade, mas fica mais difícil ver o que  a humanidade consegue fazer a si mesma.

A revolta, que com o continuar dos dias, leva a um medo atroz. E esse medo, não se sabe até onde nos pode levar e até onde a racionalidade vai poder continuar a lutar contra a estupidez que a cada dia é mais notória. 

Que Deus nos ajude...se tiver intenções disso.




segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

EU


Eu, aquela que sou, sem ser a mãe, a filha, a sobrinha, a tia, a profissional, a amiga...

Aquela que encaro quando estou sozinha, e discuto com frequência, porque não concordo com o que está a fazer e o rumo que está a levar.
Grito a mim mesma, para que eu possa perceber que estou num caminho de auto destruição, e no entanto apesar dos gritos, por vezes eu não me escuto e não consigo parar.
Existe um caso sério de vicio aqui, certo?
Quer dizer, não fumas, nem tomas drogas, beber também está fora de questão, mas existe aqui uma dependência, aquela que é tão ou mais difícil de livrar. Aquela em que tens de lidar com tua mente, teus medos e anseios. Aquela em que mês após mês, foste desligando emocionalmente das coisas. Se elas te fazem sofrer?...
Não é saudável, não é o mais correto, mas meu eu, aquela que eu tento silenciar, pois não gosto dela, tenta me combater como pode e tentar manter-se à tona da água. Mal respira...
Já não sei lidar comigo e esta pré-menopausa está a matar-me lentamente...odeio envelhecer.
Sinto-me feia, gorda, mal amada, não amada. Fugi de todos pois, no meio de todo este turbilhão, não me acho digna das amizades que tinha, da família que está no meu circulo.
Já não sei lidar contigo pequena e adolescente B, porque és como eu, uma força e quando duas forças lutam?! Pois, já sabes como é...
Tenho saudades do meu eu que levitava e estava serena. Quando se olhava no espelho gostava do que via e não sabotava sua vida. Não sei como cheguei aqui, mas estando cá não tenho forças para reinventar...estou a envelhecer e isso é a morte...Que de bom vou tirar daqui?...
Tenho saudades da minha pequena B, que era feliz e sempre sorridente. Que ia com a mãe para todo o lado, que vivia. Esta B adolescente, começa também a sabotar sua vida e não quer sair, não quer viver. Porque paraste tu de viver filha?So tens 16 anos...
Sonho com o J com tanta frequência, que quase parece ter uma vida dupla, aquela que vivo acordada e aquela que vivo a dormir, nos sonhos, com ele...sempre com ele...
Mas que merda é esta e como que meu eu me trouxe até aqui?
Não...não..não. Vou embora. Não quero mais isto. Há ainda esperança? Pode a vida voltar a ser uma contínua tarde de verão, cheia de sol e vida? Pode a brisa voltar a serenar meu Espírito?



quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Deixa ir...liberta-te.

Adianta sequer tentares encontrar o mal neste ou naquele, só para justificar teu coração de que afinal este e aquele são más pessoas e merecem tudo de mal que lhes acontece? 
Vá lá acorda, esperas realmente que com esses sentimentos vais chegar a algum lado?
Deixa ir...
Vais ser tu que vais cobrar as boas ou más ações de todas as pessoas? Não claro que não...Então porque perdes teu tempo a questionar. Deixa ir... Deixa as pessoas viverem como querem viver e deixa-as terem sua sorte ou azar, porque na verdade nada te diz respeito. Nada. Passaram por tua vida e tua passaste pela vida dessas pessoas. Não te preocupes nem martirizes pelas marcas que essas pessoas deixaram em ti, questiona antes as marcas que deixas-te nessas pessoas, porque o que importa aqui és tu, tuas decisões, tuas ações e comportamentos. Que imagem queres deixar na sociedade e nas pessoas que te cruzas. Se é tarde? Ainda não. Ainda vais a tempo. Todos os dias, ainda vais a tempo.
Por isso deixa ir, liberta-te. Não podes mais voltar atrás e desfazer o mal que possas ter criado, ou decisões menos boas que possas ter tomado. Mas podes agora , com quem estás, com quem vives e colaboras na vida, podes agora fazer a diferença. Podes ser quem queres ser. Podes ser melhor. Tudo pode ser melhor. Basta querer. Coragem, pois o caminho não vai ser fácil, mas também nunca foi não é verdade? 
Limpa teu ser, ergue em ti tudo o que é puro e quando caminhares em teu caminho faz-lo de cabeça erguida.Mas faz-lo com a consciência que o mereces. Faz-lo libertando aquele visco nojento que por vezes se encosta, mas somente porque não deixas teu rio fluir como deveria. Porque te perdes em merdinhas que a vida vai trazendo, as emoções e vivências. Merdinhas que colecionas como se fossem tesouros...E o visco nojento é tão negro por vezes, que questiono como o deixas chegar a este ponto? Como pode dentro do teu coração surgir o mais puro dos sentimentos, cheio de amor e compaixão e ao mesmo tempo, deixares que a inveja e a raiva dominem, bem como outros sentimentos negativos e perigosos e na tua cabeça concebas o desejo que este ou aquele tenham uma má vida, só para te sentires bem com a tua vida? Não tens aquilo que pedes ao universo? Não tens aquilo que se calhar mereces e ambicionaste?
E se não tens o que achas que mereces e se achas que tua vida tem de ser diferente, melhor, então porque não fazes algo por isso. Vai, quem te trava? Abre as cancelas e corre em direção ao campo verdejante. Sente o ar nos pulmões, abre os braços e abraça de novo a vida, porque ainda o podes fazer. Deixa ir tudo de mal. Liberta-te. E vais ver que o sol vai voltar a brilhar e nessa altura vais ver que as coisas farão sentido. 




sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Senhora Dona...qualquer coisa

Se olhar...se esperar só um pouco, a coisa virá até mim. Devagar, porque a coisa não é algo que se queira ter apressadamente.
A suave brisa de Outono passa por mim e sinto-lhe o cheiro. Sinto-lhe o doce carinho que faz nos meu longos cabelos e a tranquilidade que vem até meu rosto. E eu continuo à espera...
É então que percebo que não me adianta esperar, sou humana e isso basta para que a coisa não queira aparecer. Somos muito complicados, pensa a coisa. Somos alguém que não vai saber dar-lhe o devido valor. 

Mas eu quero que ela venha, quero poder saborear, ainda que por segundos, o doce sabor que a coisa vai trazer na minha vida e no entanto questiono se o mereço. Mereço que a coisa venha até mim?
Mereço sim, digo para mim mesma; com a convicção que não há um ser humano que não mereça a presença da dita coisa, afinal até o pior do ser, pode ter um pouco de bondade no coração. Lá dizem os religiosos que Deus sabe o que vai por lá...
Então sim, eu mereço. Confiante,levanto minha cabeça e volto à espera. Um dia ela vem, grito eu ao mundo.

Continuo esperançosa, pois não sou de desistir fácil, mas a cada dia que passa,  lá deixo a senhora esperança desintegrar um pouco mais e sei que um dia, ela não vai estar mais aqui...não tem como.
Revolto então, contra a coisa e digo-lhe à descarada todas as barbaridades que me apetece dizer e que minha boca solta para o mundo, como se fossem agressivas picadas de abelhas.
E eis que um dia a coisa passa por mim, não para ficar, apenas de passagem e encarando-me de frente ri à gargalhada e diz-me sem pudor que embora ela surja da forma mais simples e singela que se possa pensar, não está ao alcance de todos perceber isso e que eu, perdida no meu mundo de medos e problemas sem fim, não a vou receber, e que isso a deixa triste. 

Eu analiso o que me diz e não deixo de lhe dar razão. Abraço-a e deixo-a ir, esperando que um dia a minha situação mude e a possa receber de braços abertos e de coração sereno. Afinal quem não quer receber para si, a coisa, a senhora Dona Felicidade, que junto com o amor, fazem um casal feliz e absoluto, mas que só poucos tem o prazer da sua presença e de com eles conviver.

E eu espero...

Lembra-te de mim

Guarda-me nas tuas memórias. Acolhe-me nos teus braços serenos com carinho. Eu sou a estrela que contínua a brilhar alto no céu, e que de ma...