O Caminho

Imagine sua vida, decorrendo como uma caminhada, num trilho, em direção a algo.

Nunca se olha para trás, porque o objetivo está sempre à frente. 

Imagine que no decorrer do caminho decide seguir um atalho. Seja porque razão for, mesmo que seja porque a vista naquele atalho é mais bonita.

O objetivo mantém-se. Seguir em frente. E um dia chega lá. 

Antes de entrar por aquela porta final, olha para trás nostálgico sobre os percursos que seguiu, as decisões que tomou. As partes felizes da vida, as partes menos boas onde aprendeu algo e evoluiu como pessoa e como ser humano.

O problema é que este caminho que fazemos, pode ser mais curto do que pensamos. Pode apresentar desafios, armadilhas, dificuldades e encontrar a porta final, quando menos se espera.

Perante este cenário, que será o mais real de todos, pois desconhecemos o que nos é completamente ignorado pelo destino das nossas vidas e o propósito definido para elas, o melhor mesmo é fazer com que cada passo conte. Caminhar de cabeça erguida, mas sempre de forma tranquila. Aprender com o que vai sendo colocado à nossa frente e se forem fortes barreiras, ter a coragem de dizer a elas : desculpa, mas eu tenho um caminho a seguir e tu não me vais parar. 

Porque no meio desta caminhada, vamos encontrar pessoas, vamos amar, sonhar, construir. Vamos sofrer para evoluir. E com isto fazer como que caminho tenha mais significado. Lutar para que tenha um sentido. Para que não seja apenas e somente caminhar...

Este é o caminho, aquele que iniciamos quando nascemos. E que nele ficamos até que a morte nos venha chamar. A porta final. O que importa nem é o principio ou o fim. O que importa é a forma como fazemos nosso caminho. E isso só cabe a nós decidir no dia a dia. Passo a passo. 

Porque se tiver a sorte de o trilho ser ainda longo, imagine as coisas lindas que terá para viver e a vista fantástica que a cada dia percorrerá. E com mais sorte ainda, não o percorrerá sozinho, mas ainda que se o faça, terá toda a tranquilidade para aceitar e continuar a jornada, porque é a sua vida. O seu caminho.

Inquietude

Quando aconteceu, no inicio, pensei ser a melhor das decisões. Disse a mim mesma : Vai correr tudo bem." E depois tudo desabou...

O que a vida tem de previsível, é a sua imprevisibilidade.

Tenho em mim esta inquietude que não me abandona desde então. Não sei quando vai terminar e se é que algum dia terminará. É uma batalha. Um confronto de titãs, onde eu tento vencer, porque sou uma mulher guerreira, mas nem todas as batalha eu ganho e na maioria das vezes, ganho mas saio com mazelas...

Oh esta inquietude que me atormenta a alma e desconcentra. Que me coloca num estado permanente de vigilância e medo. 

Tento não ser pessimista e pensar que tudo vai correr bem, mesmo quando a realidade bate de frente e me mostra que não...

Se eu soubesse o que sei hoje...

Este medo que me destrói...

É normal sentir medo. Todo ele serve para estarmos alerta. Serve para criar resiliência.

Em pequenos temos medo do que hoje consideramos ridículo, mas que na altura eram dantescos. Medo do escuro era o mais comum... Eu tinha medo da trovada, especialmente do som que esta fazia.

Contudo, quando cresci fui perdendo os medos. Podia ficar ansiosa com algumas situações, mas não considerava medo. Medo mesmo, em si, tinha apenas de perder meus pais, depois minha filha. Nem da morte ou de morrer eu tinha medo.

Mas a vida é feita de ciclos e neste momento sinto medo, que o posso considerar irracional, pois a lógica está cá e atenta. Não não consigo evitar. Dou por mim  a ter medo de tanta coisa. E este medo permanente, leva-me a um estado constante de inquietude.

Melhor arma contra o medo será enfrenta-lo, mas este ciclo da minha vida, leva-me a ter medo de ter medo. Sim, é verdade. Ridículo... E não o enfrento. Estou numa fase de introspecção e creio que ter medo até pode ser normal, em determinadas circunstâncias, não fora o fato de que me destrói...

Aos poucos retomo a mim, a morte de J ainda anda aqui a causar estragos e até perceber que não estava bem resolvida, não conseguia seguir em frente. Felizmente pela vida, que vai dando aqueles chocalhar e alertas, colocando-me numa posição de estar atenta e acordar.

É verdade que sinto saudades dele. Da sua voz. De saber que estava ali se eu precisa-se. 

Mas a vida é como é e aceitar é sempre o caminho. Por isso tenho de enfrentar meus medos ridículos. Nunca fui cobarde e não irei certamente agora começar a ser.

Digo um BASTA ao medo e não vou deixar mais que me destroa. 

Sim será difícil, mas o que é fácil nesta vida?

Ser diferente

Não há lugar no mundo para ti. - O universo parece gritar esta frase para mim a cada dia, a cada hora, a cada segundo.

E a cada instante que passa, pareço acreditar nele. Não há lugar neste mundo para mim...

O mundo está mais agressivo, violento, corre quase à velocidade da luz. E eu estou a ficar para trás.

Não tenho forças nem vontade de correr. Quero saborear a vida.

Não sou uma pessoa agressiva. Quero viver em paz e com tranquilidade. Quero passar essa paz e tranquilidade aos outros.

Não sou violenta. Não ataco ninguém ou maltrato. Eu simplesmente quero viver minha vida e deixar os outros viverem a deles tranquilamente.

Fico para trás então. Fico com aqueles que comigo querem viver e saborear a vida. Sou diferente?

Sim sou e tenho de voltar a ter orgulho nisso. Largar os medos que me assombram.

Quero voltar a um tempo, outrora, mas não sei como lá chegar. E dizem os que supostamente entendem , de que não devemos viver no passado...

Mas eu não quero viver no passado. Quero buscar dele aquela pessoa que um dia fui. Quando amei. Quando era guerreira. Quando nada me assustava. Quando as coisas pareciam fazer sentido.

Sou diferente sim... sinto paz só de olhar o mar. Quero ajudar, em vez de prejudicar. Quero ouvir. Quero ser aquela onde vêm chorar, procurar conselho.

Não vou com o rebanho. Faço o que acho ser correto. Luto pelo que acredito. Não entro em joguinhos e em conversas de merda, só porque parece cool. Não gosto de redes sociais. Prefiro um bom jantar em casa com amigos de verdade. Prefiro viver com algumas tradições, por elas iluminam minha vida. Prefiro a realidade da vida. Nua e crua, porque é com ela que tenho de ver todos os dias.

Sou diferente sim, mas não é por isso que devo ser alvo a abater. Não é por isso que têm de me humilhar. Não é por isso que têm de me odiar.

Sinto nas costas o ódio, a raiva o rancor...questiono o que fiz eu agora?Será que minha simples presença causa assim tanto mal? Será que eu, pelo simples existir, causo tanta sombra assim?

Ou é apenas o universo a dizer : Não há no mundo lugar para ti...