segunda-feira, 6 de abril de 2020

Get the fuck out

Há noite, quando deito, nunca deito sozinha. Estás lá tu e mais umas quantas pessoas; ás tantas está lá tanta gente que o meu quarto não consegue albergar. Por vezes grito : Get the fuck out, mas já sabemos que a nossa mente é nossa inimiga e, bem no meio do quarto, enquanto cada uma das pessoas lá se aglomera, está a majestosa, sentada no seu trono, a rir para mim, a zombar da minha pequenez, porque não vou conseguir lutar contra ela. Já não tenho forças...

E a cada instante, eu acrescento mais alguém àquela orgia mental, onde não se faz sexo, mas cada um tenta me humilhar ainda mais, e eu grito, choro, fecho as janelas, para que a luz não entre e eu não tenha que encarar todas aquelas pessoas que eu trouxe para a minha mente. Deixo-me ficar deitada, debaixo dos lençóis escuros, dentro de um quarto vazio, sem luz. Não como, nem sequer me levanto.

Sinto-me uma merda, não tenho forças, não consigo encontrar algo de bom na minha vida e deixo-me morrer naquele quarto vazio... Depois, a bipolaridade envia o seu lado eufórico e surge altiva e cheia de força, que me injeta adrenalina, só pelo facto de que fui tomar um duche para acordar daquele sono lento de desespero e tristeza. Para a casa de banho, tento não levar aquelas pessoas todas ( é bem mais pequena que o quarto caramba) e lá consigo controlar a mente, deixando a água correr e desejo que esta leve os pensamentos negativos, as sensações más pelo cano abaixo e aos poucos a razão e lógica vem até mim e consegue deixar a luz entrar, só um pouquinho, muito ténue, porque aquele gesto simples ainda não basta para arrumar com minha inimiga e nós sabemos bem como funciona a depressão ou bipolaridade. Visto minha roupa, ao calhas, sem nexo, porque mal tenho já roupa lavada para vestir. Quando olho ao espelho vejo um velha de 70 anos, acabada, gorda e feia. Não encontro em mim qualidades e sou a primeira a apontar meus defeitos, e por Deus, são tantos... Pergunto-me nos meus momentos de lucidez, como carrego tanto...?

Quando saio para a rua, enquanto todos os outros dormem, no seio desta quarentena parva, mas  tão necessária, lá ligo o rádio e tento que a música limpe minha mente, de todas aquelas pessoas, mas onde uma persiste em ficar. Não és tu, porque no momento minha mente obsessiva, a pessoa que se encontra nos últimos dias é alguém que vive sei lá a quantos quilómetros de distância, que não sabe sequer que eu existo, que mais podia ser um habitante de Marte. Mora na minha mente, como se eu fosse uma adolescente apaixonada pelo seu cantor favorito. Por Deus mulher, acorda, tens 46 anos...

Lá grito dentro do carro, GET THE FUCK OUT, mas minha mente é minha inimiga e eu sei que para ficar saudável e arrumar de vez com minha inimiga, eu tenho de agir, tenho de criar um objetivo, eu sei que tenho de lutar, mesmo quando só me apetece agachar e morrer ali.

Não sei se estou depressiva, vazia, ou se sou bipolar. Só sei que odeio estar assim e sei que tenho de lutar, sozinha, no meio desta guerra injusta. Sei o que me assusta, sei no fundo porque estou assim e por vezes aceitar é difícil, como já o tive de fazer antes e sei o quanto custa. Mas tenho de compreender e aceitar. A vida é como é...

Preciso voltar a procurar nas coisas mais simples da vida a beleza delas e ficar feliz, com o que vou conquistando diariamente, porque eu já sei que a felicidade está nas coisas mais elementares, pequenas, mas tão importantes. Se já fiz este caminho antes, deveria ser simples fazê-lo de novo agora, mas confesso que a idade não ajuda, pois envelhecer é uma das coisas que me trouxe aqui e é algo que tenho de aceitar. 

Então lá vou buscar as minhas armas para a luta. Tentar manter a calma, ser paciente e perceber que não vai ser uma batalha fácil, mas assegurar que eu vença no fim, porque é a minha vida e até no meio desta guerra injusta que travo com minha mente, eu ainda sei que viver é a coisa mais linda que temos e que vale ainda a pena lutar por ela. Ninguém, e nem mesmo sua mente, tem o direito de lhe retirar a vontade de viver.

Lembra-te de mim

Guarda-me nas tuas memórias. Acolhe-me nos teus braços serenos com carinho. Eu sou a estrela que contínua a brilhar alto no céu, e que de ma...