A vida é tal como é. Ela não é suposto ser. Esta foi talvez a primeira lição que aprendi depois do meu divorcio. Já lá vão quase cinco anos. Costumo dizer que tudo o que me aconteceu na vida e que ainda acontecerá ensina-me algo. E o meu segredo é aprender pelos ensinamentos que a vida me vai dando. Nunca desistir.
Á medida que vou escrevendo meu livro, lembrando coisas passadas, boas e más, as vezes dou por mim a chorar e outras a rir. Nem tudo foi mau, penso para mim, mas as coisas más foram muito fundo. Foram tão profundas que não tem volta ou maneira de recuperar. As coisas más deixaram marcas invisíveis, mas que se sentem. Não são como feridas de guerra. São como um deserto permanente. Creio que, friamente analisando, J não deixou meu coração partido, mas destruído. Pergunto-me se algum dia mais serei capaz de voltar a amar um homem novamente? Amo minha filha, mais do que tudo. Fui abençoada com sua existência em minha vida, principalmente quando ela veio de um amor unilateral. Não me importa mais saber se o J me amou ou não. Se qualquer outra mulher seria melhor que eu. Já não importa saber o que pensava de mim. Tudo se perde no ar...e o que eu não consigo largar são minhas lembranças e meus porquês...esse é ainda o caminho a percorrer e o trabalho que tenho a realizar comigo mesma.
No silencio da minha alma comecei a escutar meus gritos e a deixar que eles se fossem no ar e no fundo esses gritos eram apenas sentimentos reprimidos. Coisas que deveriam ter sido ditas e não foram. Mas deixei sair e aceitei cada um deles.
P.s.) Meu pai está a recuperar. Seu cérebro ficou afectado, pois por vezes pensa estar na guerra de Angola, ou até mesmo na sua infância. Está muito magro e debilitado. Sem forças. Mas está vivo. Olha-nos com tanto carinho e todos os dias, meu pai, quando nos vê, parece que chega a luz ao seu olhar. "minhas princesas" é o que nos chama.
