quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Eu perdoo-te...

Hoje não acordei sendo eu, quem acordou foi uma espécie de zombie de mim…

Foi um zombie que se levantou da cama e se preparou para mais um dia. A verdade é que não me sinto eu e atrevo-me a dizer que nem sequer sinto o que quer que seja, pois estou apática. A alma abandonou o meu corpo e agora estou em modo automático…

Não sei o que virá daqui e sinceramente não espero o melhor. Se conseguires sair desta, será por um milagre e aí passarei a acreditar que Deus está do nosso lado…porque por agora o diabo vence…

Estás hospitalizado, com um prognóstico reservado e é impossível definir qual será o desfecho. E quando olho para ti pai, frágil, impotente, desligado já do mundo que te rodeia, assusta-me pensar no pior…

Eu perdoo-te…já te tinha perdoado muito antes de tudo isto, mas só agora meu coração cedeu e aceitou que o teu perdão já existia desde sempre. Como não poderia? És nosso pai e apesar de toda a mágoa e dor que nos causaste não poderei guardar no meu coração raiva e rancor contra ti. És nosso pai…

Eu perdoo-te também por mim, porque o negro que trouxeste para nossa vida, já nos consumiu demasiado e a nossa luta diária é contra algo sobrenatural e desumano. É a nossa cruz… mas como poderei continuar presa a um sentimento negativo contra ti? Teria de ser pior do que tu foste connosco.

Agora, a desilusão que causaste, essa não vou fingir sequer que não está aqui comigo, porque está e estará. Cada convívio, cada pensamento, cada movimento, mostra o quanto uma simples decisão infeliz do teu lado, trouxe dor, medo, profunda tristeza e uma enorme injustiça. Como não poderei estar desiludida contigo pai, se trouxeste o demónio para dentro de casa?

Se ganhamos pequenas batalhas…não, deixa-me te dizer que não ganhamos nada. Porque a bem da verdade quem ganhou foi esse demónio que vive no nosso lar. Tudo o que foi feito e pensado, foi sempre com o objetivo de favorecer o demónio e as pequenas batalhas que ilusoriamente pensámos ter ganho, são na verdade vitórias dela. Ela sempre esteve três, quatro passos à frente de nós e o tempo todo no controle. Desde que a colocaste lá em casa, nós não tivemos, nem temos mais chance…

Toda uma vida a teu lado, mais de 40 anos sendo uma família, e tu deixaste tudo fugir no
vento, como cinzas que desaparecem no ar. Não restou nada. Só dor, profunda tristeza e lamento…

Agora estás no limbo e arrastas-nos também contigo. E se por caso tudo terminar brevemente, sais do limbo para o descanso eterno, mas nós, tuas filhas, sangue do teu sangue, saímos para a guerra. Guerra que não pedimos, que não queremos, mas que eventualmente virá, por causa de uma simples decisão tua…uma simples decisão…mas eu perdoo-te pai! Se tiveres de ir, vai em paz… e que Deus nos ajude!

Lembra-te de mim

Guarda-me nas tuas memórias. Acolhe-me nos teus braços serenos com carinho. Eu sou a estrela que contínua a brilhar alto no céu, e que de ma...