terça-feira, 6 de novembro de 2018

Linha do Tempo

O tempo foge. Corre veloz porque quem espera por ele e se desespera. O tempo foi, já era. O tempo olha para nós com desdém, porque sabe o seu poder. Sabe o quanto é precioso e sorrateiramente finge estar sereno, um tanto ou quanto prazeroso, quando na verdade, corre, corre...

O tempo, que nos permitia olhar para trás, e lembrar o tempo passado, a certa altura, corre a tal velocidade, que só nos resta focar no presente e acompanhar a corrida do tempo, porque o tempo não espera. Por ninguém.

 O tempo, que juntamente com a Senhora Dona Solidão, acompanha-nos desde o momento em que respiramos fora do  ventre da nossa mãe e que em todas as alturas da nossa vida, permanece connosco rindo das nossas aventuras. Gozando com nossas fragilidades e tristezas. Olhando-nos de frente e querendo dizer com desdém : " Um dia vais arrepender de não teres feito isto ou aquilo e esse dia é já manhã."

E vamos nós, caminhando pela vida, como se o tempo fosse nosso amigo e a Senhora Dona Solidão, fosse nossa madrasta, que não gostamos nem queremos ter por perto. Mas o tempo não é nosso amigo e a Solidão tampouco é nossa inimiga. Por vezes é nossa única companhia.

Nesta linha do tempo, no caminho que percorremos, entram e saem pessoas. Algumas deixam marcas profundas, outras nem por isso... Mas o tempo, inimigo de quem faz o caminho da vida, quase que nos obriga a olhar para ele, correndo ao seu ritmo e fazendo-nos sentir falta de quem passou e deixou marcas profundas.

A certa altura, na linha do tempo, outros inimigos vão entrando, que nos dificultam o caminho. São dissimulados e frios. São de uma crueldade que nos deixam a certa altura nus. Despidos de dignidade, de vivências, de beleza, de memória. Deixam-nos ali, no caminho da vida, com turbulência e dor...muita dor.

O tempo rouba e mata. O tempo é nosso inimigo, mas quem na sua vida, pode dizer que nunca se apaixonou pelo tempo, em que este era jovem e robusto, cheio de energia e força. Em que o tempo se apresentava sem barreiras ou obstáculos e o caminho era como se fosse uma manhã de primavera, cheio de flores a emanar o mais delicado dos cheiros e que ao respirar fundo, fazíamos o caminho com tranquilidade e serenidade, sabendo que tudo ia ficar e correr bem.

Pena que o tempo, inimigo astuto e tão real, um dia...sem mais nem menos, termina. 

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Meu Pai

Recordo os braços fortes, que vinham até mim, abraçavam com carinho e levantavam no ar, provocando risos sinceros e felicidade.
A mão dada, a passear, mostrando o que a natureza tinha de mais lindo, e confirmando que a teu lado estava segura.
O olhar forte e decidido onde mostravas quem manda, mas ao mesmo tempo, que amavam e cuidavam.
O carinho que da tua voz saía dizendo que amavas, que éramos as tuas meninas.
O crescer rebelde e conhecer uma outra faceta tua, onde eras austero e por vezes, para tristeza minha, violento.
O estar adulta e precisar da tua ajuda, mas tu esquivares sempre que podias, porque afinal, não estavas mais aqui para ajudar ninguém. Eramos umas mulheres feitas...

A morte da mãe e tu a perderes teu rumo e ires bater de frente numa rocha dura e feia, a quem um dia chamaste de esposa, esquecendo minha querida e doce mãe...
Era suposto amar-te para sempre, porque sem ti, eu não existia, mas naquele dia em que anunciaste o casamento com uma estranha, acho que o meu amor, outrora fogo que ardia forte e sem barreiras encontrou um balde de agua fria e resfriou...quase apagou...

A estranha, a quem empurraste para nossa vida e obrigaste a aceitar nela sem discussões. A mesma estranha que te colocou agora num asilo, porque tua mente já não sabe onde está, e o que faz e o tempo dela é precioso para a família dela, para te aturar e cuidar de ti.
A estranha que negligenciou teu bem estar e o bem estar da tua casa. A estranha que me proibiu de pegar/usar coisas que eram da minha mãe, porque tu dizias que essas coisas eram agora dela.

Tu que querias anular nossa mãe e tudo o que ela representava para mim e minhas irmãs. Não tiveste sucesso.

Agora tu, meu pai, estás uma criança. Um ser meigo e fofinho, que não consigo ter mais nada no coração do que amor e compaixão por ti. Não entendes o que está a passar, pois tua mente criou uma bolha, onde resides ausente da realidade. Não vais talvez por isso sofrer... E...talvez seja melhor assim.

terça-feira, 16 de outubro de 2018

Deus e Stephen Hawking


Seria no mínimo um encontro interessante entre Deus e Stephen Hawking.

Terminei de ler alguns trechos do livros “ Brief answers to the big questions” que foi lançado pela filha de Stephen Hawking.

Ateísta confesso, Stephen não ia claramente dizer que Deus existe. E de facto, que provas temos que ele exista de verdade?

Eu acredito que exista algo para além da nossa compreensão. Acho que estamos cá todos com um objetivo e para mim não há coincidências. Somos energia e transmitimos esta energia pelo universo e entre nós mesmos. E nossa sabedoria, pode ser infinita, se bem explorada.

Dito isto, ouvir as palavras de Stephen Hawking, ou de Bertrand Russel, ou até mesmo de Saramago, para mencionar alguns, é entrar no mundo da lógica e da razão, onde Deus não existe, mas que levanta uma outra série de questões pertinentes, não evitando deixar, mesmo assim, um pouco de vazio no nosso interior.

Ainda que os ouça com atenção e que compreenda suas ideias e factos, pois na verdade quem é que pode debater a razão? A verdade é que somos livres para acreditar no que quisermos, desde que essa crença, esse acreditar não nos cegue. O ser humano acredita em algo superior, por várias razões e enquanto essas razões sejam para nossa evolução como seres humanos de bem, então “No harm, no fowl”, certo?

Quem conhece a bíblia, sabe os relatos que nela constam. Sabe do Deus ciumento, por vezes letal, que age de forma egoísta, no primeiro testamento, mas também do Deus de coragem, que nos guia e ensina o perdão e o amor, assim como outros “frutos do espírito” , no segundo testamento, pela boca e ações de Jesus Cristo.

Temos então a lógica, a ciência que nos leva para um lado e o coração que nos leva para outro, pois acreditar em Deus é deixar guiar pelo coração, é acreditar que tem alguém que nos ama e que nos vai livrar do mal.

Ciência que nos indica que esgotámos os recursos naturais do nosso planeta e se aproxima um fim e a bíblia, onde Deus nos ensina e adverte esse fim. Onde está a verdade?

Questiono por vezes, se não será no fim de contas um Matrix, onde somos meros puppets, gafanhotos, como a bíblia menciona; e alguém; algures neste universo imenso, ri com tudo isto?

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Quem diria...


O que a vida tem de previsível é a sua imprevisibilidade. Quem diria que eu estaria aqui um dia, nesta presente situação. Segurar nas minhas mãos algo teu, algo tão pessoal, que a cada palavra, magoa meu ser.


Compreendo que a vida não foi fácil para ti. Foi cruel. Foi muitas vezes injusta. Houveram pessoas que mais injustas foram contigo. Pessoas que deveriam amar-te e cuidar de ti. Pessoas que supostamente deveriam ter dado bases saudáveis de vida, mas que pelo contrário puxaram o tapete e caíste redondo no chão. Dali para frente, meu querido, veio sempre o vazio, a inquietude, a ilusão...

Mesmo assim, percebendo o que te levou a determinados caminhos, há passos que jamais deveriam ter sido dados e no entanto, se não os desses, Beatriz não estaria aqui e sinceramente, não sei como seria minha vida sem ela. Sem que tu, não tivesses passado por aqui e alojado permanentemente no meu coração...?! Poderia ter sido melhor, ou pior. Não sei...

Enquanto tu tiveste um peso enorme na minha vida, eu para ti, fui como uma brisa que passou. Fui um instante. Eu tenho consciência disso. Sei que os 13 anos juntos, não foram nada. Foram apenas vivências...foram dias e horas que passavam. Foram porém tempos que para mim construíram minha vida. Alicerçaram um amor verdadeiro e criaram bases sólidas de um ser.

Olha a diferença? Pensei várias vezes que estas diferenças ocorriam por sermos de géneros opostos. Nós mulheres temos sentimentalismos alojados nas nossa acções. Nós lidamos com sentimento e emoção perante as coisas e certamente os homens são diferentes. Mas não foi esse o motivo principal. O motivo real doeu de forma profunda e aceitar esse fato foi o que mais custou neste processo todo.

Mas agora não importa mais. O que agora tem real peso nisto tudo, quando já aqui não estás e nada mais há a fazer ou dizer? Minhas palavras aqui são apenas desabafos, do que ainda no coração abunda. Não sei fazer de outra forma. Não sei desligar e deixar de amar ou sentir.

O que agora vem até mim, choca mas passa. O que realmente ainda me afecta é que apesar do tempo, apesar das situações que magoaram, não consigo te odiar e deixar de amar. E questiono porquê?

Quão inútil se tornou este amor... Quem diria...





terça-feira, 11 de setembro de 2018

Aceitação


Aceitar é talvez a primeira fase de qualquer processo de superação.
Aceitar é dar um passo gigante em frente na vida.
Aceitar é compreender o que aconteceu e porquê.
Aceitar é evoluir como pessoa.
Aceitar é por vezes o mais difícil de se conseguir e a meu ver, nenhuma superação terá sucesso absoluto se não se aceitar as coisas como elas são. Se não aceitarmos a vida como ela é.
Aceitar, não quer dizer que se concorde, respeite. Aceitar é simplesmente compreender que aconteceu, mesmo por vezes contra nossa vontade, mas à qual temos de conviver e aprender com essa vivência.

Sim eu sei, falar é fácil... Como eu sei...!

Mas se não se fizer algo para aceitar, não se evoluiu e supera o que nos trouxe dor e mágoa. E ficamos para sempre no limbo. Sentimentos e emoções presos a um passado que já nada contribuiu para o presente e futuro. Então porque insistir em algo que já nem sequer faz sentido algum?


terça-feira, 4 de setembro de 2018

Vai para onde te leva o coração...

Se hoje eu segui-se as palavras bonitas de Susanna Tamaro, meu coração ia levar-me para bem longe daqui. Iria refugiar-me numa linda cabana, frente ao mar. Num dia lindo de sol, com a brisa a entrar pelas janelas e a fazer dançar delicadamente as cortinas.

Iria acordar de um sono tranquilo e com minha filhota tomar um pequeno-almoço com fruta suculenta. Iria deixar o dia correr tranquilo, abraçando a alegria e boa disposição, porque naquela cabana, residia apenas o amor simples e o respeito de uma mãe e filha. Onde não há falsidades nem mentiras.

Meu coração iria deixar que eu ali ficasse, pelo tempo que eu desejasse ficar. E depois iria rumar a outros locais, que o mundo tem de mais belo. Iria passar na ponte Dourada, nas colinas de Da Nang no Vietname e respirar fundo naquele lugar mágico, tão perto das nuvens, onde a natureza parece não ter fim.

Iria ver  a majestosas estátuas de Ali e Nino em Batumi, onde o amor é aqui retratado sobre a forma de um homem e uma mulher com oito metros de altura, em aço, que se fundem, para maravilha de quem observa. A linda história de amor tirada do livro de Kurban Said.

Iria de seguida passear pelo Senna e admirar os lindos jardins do Louvre, viver Paris, perdendo-me nas suas ruas, deliciando-me com seus petiscos, queijos e iguarias. 

Tanto para fazer, sítios lindos e deslumbrantes para visitar. Minha casa seria onde meu pés estivessem naquela dia. Onde o mundo seria a minha casa.

Porque meu coração livre, quer voar. Quer conhecer outros países, pessoas, suas tradições e gastronomia. Meu coração não procura mais estar preso a nada nem a ninguém. Pássaro ferido que um dia percebeu que podia voar novamente e voar para onde o coração o levasse.



segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Quando o que era não é mais…


Outrora havia certeza. Um caminhar firme e decidido. Havia um pôr de sol tranquilo e sereno. Havia aquela sensação de leveza e quietude. Estava feliz, tranquila e tudo à minha volta parecia estar a recompor. Aceitei o que de mau a vida me trouxe e aprendi com isso. Afinal não há mais nada a retirar de todas as passagens que nos causam tanta dor, a não ser o facto de que passamos por tudo aquilo, para evoluir, para ficar mais resiliente e perceber qual o nosso caminho não é verdade?

Então lá segui eu, firme e decidida. Com minhas convicções, de coração sereno nas minhas decisões de vida. E feliz.

Até que a vida resolveu trazer o mal do passado de volta à luz do dia. Aquele mal sujo, nojento, asqueroso, monstruoso, que eu coloquei num baú, e guardei na arrecadação da memória, para que não o tivesse de ver mais. Mas porque raio é que eu teria de o voltar a ver? Porque me trouxe a vida, este mal de volta?

Lá veio tudo e com isso tudo, um punhado de mais coisas más, daquelas que pensamos e nem queremos que nos apareça. Mas ei-la aqui. A Maldade. Rainha e senhora, para me mostrar que todo o mal tem um fim, mas que também toda a felicidade um dia termina. Ou não fosse a vida feita de ciclos…

Lá veio ela, e com ela terminou a minha serenidade. Já não caminho mais firme e decidida e neste momento, a sensação de inquietude é constante. Não consigo mais ser feliz, e aquela sensação de leveza, abandonou a minha mente e coração. Ando preocupada demais, ando com medo demais. Ando perdida num meio de uma tempestade de areia, onde não vejo um palmo à minha frente. Mal consigo respirar e luto, para sair dali, mas ainda não consegui. Já não sei ser simpática, afável, positiva, com nada nem com ninguém. Estou esgotada…

Porque raio, a vida me trouxe aqui de novo? O que ganho eu em saber que para além de tudo o que passei, mais mentiras e mais falsidades rondavam aquele ser que tanto amei, a ponto de perceber que toda, mas absolutamente toda a minha vida com ele foi uma mentira. Porque todo aquele tempo, o Júlio vivia uma vida que não era a que queria. Porque todo ele queria estar num outro lugar, com outra pessoa e não comigo, não com qualquer mulher. Todas as que se seguiam, eram uma continuidade de um fingimento. Júlio não amava, não desejava verdadeiramente as mulheres, Júlio tinha medo da sua condição e refugiava-se num relacionamento heterossexual, porque tinha medo sequer da ideia de se assumir. E nesta sentido, eu, as duas anteriores esposas e mais umas quantas idiotas, que acham que ele as amava, estávamos todas enganadas. E eis que a maldade veio sob a forma de um rapaz que se sentia diferente, mas que por causa de uma autoridade atroz de um pai violento, aquele rapaz fugiu aos seus desejos e fez o que qualquer rapaz faria com medo de viver o diferente.

O Júlio negou-se a si mesmo e começou a viver a vida que a sociedade tinha projetado parta ele. Iria casar, ser pai e blá, blá, blá… mas o peso foi demasiado grande e viver o que não lhe estava no coração, era demasiado penoso. Ele tentou mas não conseguiu. Tentou de mais a meu ver. Nosso relacionamento já seria algo que ele jamais deveria ter tentado. Mas quis a vida que ele o fizesse e aqui estou agora. Eu compreendo a luta que deve ter travado consigo mesmo. Compreendo o medo que sentiu. Mas não consigo mais sequer ter respeito por ele.

Mesmo já não estando cá entre os vivos, o Júlio foi um homem que se tornou numa versão fria, distante, cruel de um ser humano que a vida “castigava” todos os dias por ser diferente e ele enganava por seu lado todos aqueles que à sua volta viviam. Era o perfeito ator. Moldando-se a cada nova aventura, relação. Era o príncipe encantado, o homem vigoroso, o macho latino, com sotaque espanhol, que nos derretia ouvir falar. Era atraente e eloquente. Era astuto, e inteligente. Parecia sólido, mas a verdade é que não o era. Era um homem triste, que tentava manter-se à tona da água e a busca contínua de ser feliz, mas nunca lá chegava. Nem chegou… Passou como um tsunami na vida das pessoas e morreu, deixando apenas saudade a uma criança que a seu olhos era o pai perfeito. Mas no geral, deixou tudo devastado, frio e triste. Deixou um ar petrificado, poluente como Chernobyl. 

E ele não conseguiu ser feliz, nem quando a Beatriz entrou nas nossas vidas. Nem quando foi um pai, mais presente e diferente com a nossa filha. Júlio não sabia ser feliz. Não consegui. Nem com as pequenas coisas da vida, aquelas que a tornam válida e bonita.

E quanto a mim? Bem, quanto a mim, tudo isto causou a abertura de uma nova ferida. Uma diferente daquela que sentira no passado. Não tenho palavras para descrever o que esta situação faz à vida de alguém. O que esta vida de mentira nos transforma, pois cada carinho era falso, cada ato de amor era falso… E por mais que tente e lute, esta inquietude fica e por mais que seja guerreira, está a ser difícil sair dela. Não a entendo. À inquietude. Estou sem paciência para aturar as pessoas e seu males. Estou sem paciência para ser sempre a boazinha, e aturar merdas de tudo e de todos. A verdade é que sinto-me diferente e esta diferença empurra para um lugar, que eu não consigo ver com claridade o caminho. E ando com medo. Sinto uma tristeza permanente. Hipotequei a minha vida, no dia em que aquele ser me convidou para jantar e eu aceitei.

Lá diz a Ophra, que quando não sabemos o que fazer, devemos ficar quietos e aguardar. Mas já estou quieta assim, a aguardar que o universo fale comigo, desde 2014. Aguardo como uma sequiosa que a serenidade volte. Que a tranquilidade volte a mim, como uma brisa suave de fim de tarde, num dia lindo de verão.

Caricato é que, hoje, ao sair do metro, e ao subir as escadas, com tantas outras pessoas que regressam ao trabalho, percebi que estou robotizada.

Não seria de supor que um humano vira-se robô, quando o que a ciência pretende é que um robô vire humano, certo?...

sexta-feira, 6 de julho de 2018

Beatriz


Aquele ser pequenino, que eu coloquei na minha mão  e dei banho pela primeira vez, está hoje uma mulher.

Cresceste conforme a vida determinou e continuas a ser o ser humano que mais amo neste mundo.

Ver o que já alcançaste, da forma como o fizeste com honra e dignidade, dá-me uma sensação de tranquilidade, pois crie um ser humano digno e com carácter.

Ser mãe não estava nos meus planos, mas desde que sou, desde aquele dia de verão, em que descobri que estavas a desenvolver dentro de mim e que um dia serias uma mulher, desde esse dia, que é uma bênção.

Não tenho nada que me arrependa. Dou todo os dias o meu melhor e por mais que por vezes tenha de ser a mãe e não a amiga, vejo que moldou para o bem o teu carácter e isso deixa-me orgulhosa.

São 14 anos, mas pareces bem mais crescida. Seja por teres tornado numa linda mulher, seja pelo pela maturidade que te é já característica.

Não mudes filha, pois não é para todos ser diferente, correta acima de tudo. Sê humilde e honesta. Este mundo, nossa sociedade, está sempre em constante mudança e não acho que seja para melhor, em questão de valores morais e decência, mas isso é só a minha opinião, e por isso dai meu conselho para seres sempre verdadeira, humilde e honesta.

Não foram fáceis estes últimos 14 anos. Lutei sozinha para termos uma casa digna, comida na mesa e para poderes ter o básico no teu crescimento, que considero saudável. O falecimento do teu pai, a tua escoliose, deixaram marcas negativas na tua curta vida, marcas que soubeste aceitar e conviver com elas. Não digo que seja fácil, nem sequer digo que estás feliz com isto, mas aprendeste que estas coisas acontecem e apesar de serem injustas, elas tornam-nos mais resilientes e moldam nosso ser.

Mas também tivemos coisas boas. Nossas viagens, a primeira vez que aos 7 anos andaste de avião e o bichinho ficou de tal maneira, que agora dizes que vais ser piloto 😃 e acredito que o faças, pela forma que teus olhos brilham e a tua incansável forma de lutar pelos teus sonhos.

Seja o que fores minha querida filha, sê-o da melhor forma possível. Pois como te digo sempre, só há uma maneira de fazer as coisas, é faze-las bem 😃 e eu espero estar cá para continuar a acompanhar teu crescimento, para te apoiar e cuidar de ti. Para poder um dia cuidar de meus netinhos 😃 e que eles sejam tão fofos e carinhosos como tu sempre foste e ainda és.

O meu raio de sol. A minha luz na escuridão. Meu maior tesouro.
Amo-te muito e tenho muito orgulho por seres como és, quem és. 
Minha linda e querida filha Beatriz.  💕💕





quarta-feira, 27 de junho de 2018

Envelhecer

Por mais que existam coisas que nos dê medo e ansiedade, nada assusta mais do que envelhecer.
Ver o quanto perdemos, no que nos transformamos no final, dá-me mais medo do que enfrentar a morte.

Meu pai sempre foi um homem forte, daqueles homens determinados e sempre teve um rápido raciocino e conversa de fácil argumentação. Meu pai falava de tudo um pouco. Estava sempre atento ás noticias, ás novas tecnologias, ao desenvolvimento.

Meu pai, que hoje, não tendo sequer ainda 80 anos, parece um bebé, perdendo as suas faculdades mentais. Anda com fralda. Passeia durante a noite, pela casa, assustando tudo e todos. Vive uma vida que já não é a dele. Vive porque respira e o coração ainda bate, mas meu pai já não é quem era.

Quando olho para trás, e o visualizo agora, assusta-me pensar que em dia, toda aquela sabedoria se vai. Toda a nossa destreza. Não reconhecemos filhos, marido ou esposa. Não sabemos sequer onde estamos a dormir, se vamos ter alguém que nos dê de comer, dar banho, etc.

Meu pai, apesar de tão de repente ter ficado assim, perdendo quase toda a dignidade de ser humano, ficando sujeito e à mercê de outras pessoas, tem um olhar triste. Permanentemente triste...

Então eu fico assustada, porque não é o único a quem eu vejo diariamente envelhecer e a perder as suas faculdades. Seja porque simplesmente as células chegaram a um ponto e retrocedem, seja por doença , seja pelo motivo que for. Um dia estarei ali, não sendo já eu mesma, sendo um vislumbre de quem outrora fui.

Para trás fica todo o meu conhecimento, os livros que li, as opiniões e conselhos, a destreza de ações e pensamentos. O discurso coeso e assertivo. Eu, simplesmente não serei mais... e isso dá-me medo.






terça-feira, 3 de abril de 2018

A fragilidade que é a vida

Se a nossa vida é totalmente imprevisível, ela é também frágil e pode terminar a qualquer instante.
Enquanto me dirigia para o trabalho, alguém cai uns metros acima e outro alguém mais próximo vai em seu auxilio. Chega o INEM e tentam reanimar. Nada. A vida daquela pessoa terminou ali. Na calçada da rua, provavelmente enquanto se dirigia para o trabalho, como eu.

Situações destas colocam sempre em perspectiva a nossa vida e são situações destas que nos ajudam a ponderar o que é verdadeiramente importante. O que realmente conta e tem peso.

Desde a morte da minha mãe e meu divórcio, algo que infelizmente marcou a minha vida de forma negativa, mas que me vez encarar a vida com outros olhos. Parei de procurar o que já não fazia sentido e procurei aquilo que realmente me faz feliz. Que traz paz e tranquilidade. 

Tem existido solavancos e obstáculos horrorosos. Minha serenidade foi atingida e eu fiquei abalada depois com a morte do meu ex marido e tudo o que descobri dele, após sua morte. Andei com uma inquietude constante, mas meu objectivo sempre estive lá. Meu foco. Viver para o que realmente interessa e fazer com que cada dia conte. Seja importante. Estar disponível para ajudar quem precisa.  Não complico. Não insulto. Mas ignoro, não nego. Tem pessoas que simplesmente eu não consigo gostar e evito-as. Não é correto? Sim eu sei. Todos merecemos o perdão e uma oportunidade, Mas a verdade é que eu não consigo aceitar quem deliberadamente decide fazer mal e prejudicar. Sim, essas pessoas eu evito. 

A nossa vida é muito frágil e se um dia, perto do fim, se eu tiver tempo para ponderar e questionar, sei o perdão que irei pedir, pelas falhas e erros que cometi, mas também sei que passei tranquila pela vida e se como um ladrão ela me for roubada de repente, que fique o que de melhor eu tenha e que tenha deixado imprimido nas pessoas, como minha amizade sincera, carácter, amor e humildade.

E pelo tempo que por aqui ainda andar, quero continuar a ser uma boa mãe, irmã, filha, profissional. Um ser humano decente com valores e amor no coração. 

Uma coisa é certa :-) agradeço à vida, a Deus, ao universo, whatever, o que me deu, e pelas pedras que colocou no meu caminho, pois com elas fiz a calçada que hoje percorro tranquila.

Namasté!




quarta-feira, 14 de março de 2018

O Rei ficou nu...

Quis a vida que num destes dias, alguém do teu passado cruzasse comigo no metro. Alguém que iria confirmar aquilo que há muito tempo desconfiava. E que de alguma forma estava em divida para comigo, pois tantas vezes eu abordei aquele assunto e tu esquivavas com as habituais desculpas. Mas a verdade veio ao de cima.

Eis que o rei ficou nu, perante mim e perante a vida. Tu eras o que eu sempre pensei que fosses e por vergonha de assumires até para contigo mesmo, foste destruindo tudo à tua volta. Fingias, dissimulavas. 

Quando dormias a meu lado, quando me davas a mão na rua e no cinema, quando olhavas para mim e dizias que amavas. Era tudo mentira... E se a mentira é por si mesma uma das coisas que mais magoa numa relação, mentir desta forma, é ser cruel. É não ter compaixão para com a outra pessoa.

Eu amei uma ideia, um conceito que criaste para mim. Num dia, achas-te por bem criar essa peça de teatro, mas para ela correr bem, era preciso outra personagem. Cai nela de pára-quedas, mas lamento meu querido que eu não seja boa atriz como tu foste um bom ator e que na verdade fingir daquela forma, só está ao alcance de alguns. Não era para mim...

Entrei nessa peça de teatro, por pensar que era a minha vida que estava em jogo. Não imaginei que tu brincavas ás casinhas, assegurando sempre que era tudo real e sentido. Tanta treta de merda...

Ficaste parado nos 9 anos. teu corpo cresceu mas nele vivia aquela criança de 9 anos que passou por experiências traumáticas e não soubeste lidar com elas. Cresceste amargurado, para amargurar quem pela tua vida passasse.

Roubaste tanto de mim, que nem tenho palavras para as descrever. E agora?...Agora mais uma vez, destróis meu coração e sou eu quem tem de voltar a pegar nos pedacinhos e recompor o que resta de mim. Sou eu que tenho de viver com todo o resultado da peça de teatro que para nós os dois criaste. Sou eu que tenho de cuidar da B e agora sim, fingir que está tudo bem, porque na verdade não está e já há algum tempo...

O rei ficou nu porque já não há mais nada escondido e no entanto, por vezes, acho que viver na ignorância de alguns factos, é sem duvida, uma bênção.

Lá onde estiveres agora, espero que vejas tudo o quanto destruíste e que Deus te perdoe, porque para mim, ainda doí demais para o fazer e pergunto-me se algum dia conseguirei...

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Este ser supremo...

Desenvolvemos um lado espiritual, quer por necessidade, quer por indicação de familiar ou amigo.
Viver com Deus, com a ideia de um Deus, é por vezes mais fácil e simples de viver a vida. Alguém vai zelar por mim. Alguém vai cuidar de mim. Aqueles passos na areia que em certa altura na nossa vida ele, Deus, ergueu-nos no seu colo e carregou nossos "fardos".

Dito isto, não sou ateia. Acredito em Deus. Acredito pela complexidade da vida, do universo. Porque até a mais complexa ciência, não consegue explicar tudo e este tudo é por si tão complexo que acreditar que existe algo ali, para além da nossa compreensão e para além do universo vasto, faz sentido e tem lógica.

Sim, eu acredito. Acho que tal como sinto o vento, embora não o consiga ver, Deus existe também. Não posso provar se a bíblia veio dele. Se Jesus estive aqui ou não. Nem sequer vou provar ou explicar as supostas visões de uns e outros, de Maria e tal... 
Eu acredito em Deus. Aquele que supostamente criou tudo, como uma matrix complexa, mas bem definida. Aquele que se calhar colocou o bem e o mal na terra, porque sabe que para tudo tem de haver um equilíbrio. Aquele que nos deu o sopro da vida e nos fez viver. Crescer a partir de um embrião, metamorfose da união de dois seres. De um óvulo feminino e um espermatozóide masculino.

Essa perfeição determinante para nascermos e sermos muitos, cada um dentro de sua espécie. Homem, animal, planta. Cada passo detalhado para existir neste planeta. Não é obra de um acaso. É um facto. Não acredito em coincidências. Tal como não acredito que estamos aqui por estar.

Assim, eu acredito em Deus. E tanto mais há para falar. Porque o tópico é vasto em questões e poucas são as respostas. E nenhuma é absoluta. São desejos de quem já passou por tanto na vida e sei lá eu o que ela ainda me reserva. Se acreditar num ser superior é tão absurdo para alguns, eu só digo que aceito e respeito sua opinião, por isso, aceitem e respeitem lá a minha, porque é minha e não faço mal algum a ninguém com ela. Não a impinjo, nem sequer deixo que ela esteja acima de amor, amizade e família. Alguém disse um dia : " Descubram a verdade e ela vos libertará." por isso sou livre. 
E agradeço por isso.

Namasté!


sábado, 3 de fevereiro de 2018

As pessoas que somos...

Ninguém sabe como verdadeiramente és. Surges frágil e delicada. Por vezes submissa ou manipuladora. Vens como que quem não sabe nada, mas já sabendo tudo. Chegas tranquila e com verdade absoluta, ou caminhas mentirosa e dissimulada.

Alguém uma vez disse que, somos aquilo que deixamos que os outros vejam, nem mais nem menos do que aquilo que decidimos mostrar. Quem o disse, passou pela vida como se ela fosse uma peça de teatro, e era um ator constante. Ele não era na verdade quem parecia ser. Porque quem somos na verdade só nos mesmos sabemos. 

Mas vem um dia, que baixamos a guarda. que deixamos alguém ver como realmente somos.
Nossos falhas. Nossos medos. Nossas fragilidades.
Se tivermos bom carater, esse outro ser que se esconde, não passará disso. De fragilidades humanas que não queremos mostrar por medo de ser aceite, ou não ser amado.
Se por outro lado, houver mal carater, então serão mais que fragilidades. É frieza, falta de amor, desprovidos de sentimentos e emoções. E viver assim, será que é viver de verdade?...

Quando encontramos alguém, a quem podemos mostrar nosso verdadeiro eu e esse alguém nos aceita como somos, então é como ganhar na lotaria e a felicidade de viver com alguém ao nosso lado, tornasse possível.

Porque aceitar outro ser humano, com seus defeitos, medos e fragilidades, parece a cada dia, ser mais difícil de lidar e torna-se incompreensível como o ser humano, escolhe a cada dia, em pleno século XXI viver na solidão do que aceitar.

A pessoa que somos deveria sentar, numa poltrona confortável e consigo própria falar, porque a vida é muito frágil, só temos uma e passar por aqui só por passar, não só não faz sentido algum, como no fim vai pesar...e muito.



Lembra-te de mim

Guarda-me nas tuas memórias. Acolhe-me nos teus braços serenos com carinho. Eu sou a estrela que contínua a brilhar alto no céu, e que de ma...