
Não vou falar de limpezas de casa, de modo literal. Será simbólico. E todos nós temos a determinado altura da vida de o fazer, para deitar fora o que não presta, para deixar o ar fresco entrar, para deixar a luz entrar, para retirar as teias dos sótão e espantar os fantasmas do armário.
Estou nos trinta, sozinha, e sem perspectivas de grande alegria no futuro, achei que era altura. Porque ao meu redor estão coisas lindas e cheias de vida. Estão coisas fantásticas, que eu não estou a dar o devido valor, nem estou a deixar o coração sentir a alegria com essas coisas, porque me tornei em alguém que eu detesto. Sinto-me uma drogada em ressaca e preciso da cura e a minha cura passa por arrumar a minha casa. A casa do meu coração e mente.
Jamais esperei chegar aqui, sozinha,com uma filha a meu encargo e despesas que ultrapassam meus rendimentos. Jamais esperei ficar dependente de terceiros para me sentir feliz e realizada. Confundir sexo com amor. Nunca imaginei, nos meus sonhos de criança, chegar a esta idade e estar com medo do futuro, que me parece a cada dia mais negro. E sinceramente não esperei jamais, perder a confiança na humanidade e no amor.
Mas a realidade e que estou a viver essas coisas todas. A perda de motivação, de confiança, o vazio constante, a tristeza que teima em ficar e não me abandona, como um mau inquilino que ninguém quer.
Como ainda me resta algo que me deixa ainda orgulhosa em mim, eu vou pegar nesse pequeno presente, que é a minha força e vontade de mudar e vou limpar, arrumar minha casa. Ando numa tentativa de aceitar, de parar de fantasiar e idealizar coisas que nunca mais vão acontecer e aceitar a minha idade e o que a vida ainda me pode dar, da forma que ela me vai dar.
E um processo lento, passa por começar com analise da infância, adolescente. Perceber onde foi que eu me perdi e me abandonei. Passa por aceitar, medos, desilusões, frustrações, coisas más que fiz a terceiros, porque nem sempre fui boazinha com todos. Passa por dar meia volta e recomeçar, usando o passado como experiência, tirar sempre o lado positivo das coisas e não esperar mais da vida ou das pessoas do que aquilo que elas podem dar. Passa por jamais tentar mudar o outro e aceitar cada um como é, com seus defeitos e suas qualidades. Passa por abraçar Deus na minha vida, no bom no mau, não somente quando está mau. Passa, finalmente por ter noção da minha vida e ficar feliz com ela. Aceito que o universo ( DEUS) só me vai dar aquilo que para mim está reservado e ponto final.
No fim da arrumação, espero estar em paz comigo mesma e com o mundo. Espero poder crescer a nível emocional e voltar a ser a mulher que eu nasci para ser. Porque não aceito de forma alguma ter nascido somente para sofrer e sentir dor. Porque não aceito de forma alguma que nasci para sofrer nas mãos dos homens. Porque não aceito de forma alguma ter nascido somente para chorar e sentir este vazio constante.
Eu nasci para ser feliz, assim seja sozinha com minha filha, e vou lutar por essa felicidade, o resto vira da forma que tiver de vir, mas vira de forma natural.
E nisso eu deposito minha fé!
Namastê !