quarta-feira, 27 de abril de 2011

Diálogo Final

-Foi difícil para mim compreender tudo, ou pelo menos perceber aquilo que nunca falaste e que eu simplesmente deduzi. Creio que nunca irás perceber o quando sofri e a dor profunda que causaste.
-Sabes que aqui serei sensato, mas que a realidade é outra. Que na realidade olho-te com desprezo e indiferença. Mas aqui vou te ouvir. Vou ser sincero, como nunca o fui. Com ninguém.
-Sei que sim, e ainda bem porque tem coisas que sempre te quis dizer e não pude. Primeiro porque o que te dizia vias como sinal de fraqueza. Não vias como um sinal de amor. Do amor verdadeiro. Segundo porque gritavas comigo, tentavas me diminuir como mulher, como pessoa. E sinceramente já bastava para mim sentir toda essa indiferença. Mas mesmo assim, com o desprezo, com a indiferença, eu tinha de te falar. De te dizer o que me vai na alma, como ponto final verdadeiro, para tudo.
-Também tu me tratas com indiferença e achas que sou um monstro. Mas creio que deves ter razão. Afinal sei ser tão mau e cruel quando quero. E sei, reconheço que te magoei e muito. Sei que tu me amaste, provavelmente mais do que qualquer outra, que teus sentimentos eram de facto reais e sinceros, mas sabes que apesar de reconhecer isto, eu não posso aceitar essa verdade, porque assim teria de aceitar também o facto de que eu te estava a destruir com minha maldade e simplesmente minha falta de amor. E sim, eu sei que destrui tua auto-estima, que te afundei num abismo mas com garra e determinação tu conseguiste sair e voltar á vida. Reconheço que tu és de facto o contrário daquilo que eu sempre quis te ver, que és uma guerreira.
-Não J, eu não te acho um monstro, acho simplesmente que és um pessoa triste. Sempre foste. Desde miúdo. Lembras tuas fotos? Aquelas em que em criança não havia um único sorriso? És uma pessoa triste e não sabes reconhecer quem te ama e te faz bem. Alem disso, tens um certo desequilíbrio emocional tão grande que te leva a atacar quem só te quer ajudar. Eu comecei por ver esse menino sozinho e triste e creio que foi por essa personalidade tua que me apaixonei, porque no inicio pensei que precisavas de mim. Mas depois percebi, e não demorou muito para o fazer, que tu eras bem diferente daquilo que eu imaginava e que tu fazias passar ás pessoas. Que eras na verdade amargurado, frio, triste, frustrado e simplesmente egoísta. Tu nunca foste feliz e jamais o serás. Não consegues amar, e sentes um vazio tão profundo que nem vez o que o causas e quando eu tentei ser a luz que te trazia a casa, tu simplesmente a recusas-te e simplesmente preferiste não querer minha ajuda. Mais uma vez, cobardemente saíste em retirada, e com todo aquele jogo teu, tão habitual que jogas com habilidade fizeste com que as pessoas se afastassem de ti. Fizeste com que eu me afastasse de ti. Por isso fiz o que querias. Fiquei longe. Estou longe.
-Podia simplesmente pedir desculpa, mas será que isso limpa meu passado?
-Jamais. Teu passado está conectado com outras pessoas. Fizeste mal a tanta gente, fizeste tão mal a teus filhos, mas a pessoa a quem mais magoas é a ti mesmo. Cada acção tem uma reacção. E trás consequências. Destruíste tantos sonhos...
-Eu sei, mas não consigo sentir empatia por ti, por aquilo que te destrui. Não consigo te ver como pessoa que sofre. Sabes bem a ideia que criei de ti. Só assim podia justificar minhas acções e considerar que eu não te estava de facto a magoar, que estava a ser justo e correcto. Sabes bem que fica difícil aceitar que errei uma vez mais. Que mais uma vez destrui algo bom na minha vida. Que simplesmente mais uma vez destrui a vida de outro ser humano. Não seria possível para mim continuar a viver e sair e conviver com outras pessoas, outras mulheres se não fingisse que eu estava certo e que todas as minhas ex mulheres, incluindo tu e principalmente tu, eram malucas, desumanas e insensíveis. Que eram vocês o monstro e não eu. Que tu és o monstro e que és tu de facto quem me magoa e não ao contrario.
-Pois, eu sei. Sempre o soube. Mas eu sei e tu sabes, que não sou eu o monstro e que todas as minhas acções foram na verdade reacções á tua maldade. Que na verdade eu não guardo culpa, nem teria que o fazer, de qualquer coisa com relação a ti. Já te o tinha dito antes. Sei que são precisos dois para dançar o tango e que numa relação existem os dois lados, mas a verdade é que tu apenas tiveste de mim aquilo que querias na verdade ter. Teus jogos faziam-me agir exactamente da forma que querias, pois precisavas de encontrar as culpas em mim. Se há culpa aqui minha, foi apenas a de te amar, para alem da lógica e da razão. Foi a culpa de não te querer ver como eras na verdade e insistir em te ver como eu queria que fosses. O marido delicado, o companheiro. Estavas longe disso.
-Eu sei que tens razão, ajuda se te disser que és aquela mulher que eu sempre imaginei que serias? A guerreira? A lutadora? A que sozinha leva o mundo nas costas e mesmo assim dá luta. Sabes que na verdade, na mais pura verdade eu sempre me senti inferior a ti. Sempre senti inveja de ti. E sim, nossa relação, nosso casamento estavam condenados, mesmo antes de começar. Porque, pelas razões erradas me aproximei de ti. Pelas razões erradas deixei que te envolvesses e apaixonasses por mim. Pelas razões erradas pedi-te em casamento, pelas razões erradas fiz-te acreditar que eu te amava. E pelas razões erradas sou pai de uma criança linda como a B, mas tal como fiz com meus anteriores filhos, não consigo ser um pai de verdade.
-Gosto de te ouvir falar, ser sincero pela primeira vez. Deverias ter sido assim desde primeiro dia que me convidaste para jantar. Alias, atrevo-me a dizer que nem deverias ter convidado. Eu tinha uma vida pela frente. Era inocente com relação á tua matreirice e maldade. Ou então devias ter explicado o que querias de mim, em vez de me ter dito que eu era especial e que não te vias a viver sem mim. Que eu dava luz á tua vida e que eu era o amor da tua vida. Nem imaginas o que faz a um coração perceber que eram somente palavras. Somente palavras vazias. Afinal continuas a dize-lo a todas as mulheres que vieram depois de mim... creio que só passando pelas coisas é que percebias o dano que causa, quando percebemos que quem amamos não nos ama e nos trata com critica, indiferença e tenta sempre nos ridicularizar e humilhar. Ainda hoje fica difícil dizeres algo bom a meu respeito, não é mesmo? Simplesmente não o vês ou não queres ver. Apontavas isto e aquilo. Ficavas á espera para me ver falhar, pois isso dava-te forças. Chamei-te vampiro emocional muitas vezes e não estava longe da verdade. O que te queria dizer afinal é que apesar do teu ego achar que ainda te amo, eu não amo mais. O amor foi morrendo aos poucos. Foi a pior coisa que tive de pedir a mim mesma, mas consegui. Não minto que uma parte de mim vai sempre te amar, porque apesar de tudo foste meu primeiro grande amor, foste o bom e o mau ao mesmo tempo. Foste meu melhor amigo, meu marido e és o pai da minha filha. Bem pelo menos quero considerar que eras para mim meu melhor amigo, mas já não sei se sentias o mesmo com relação a mim. Creio que não. Por isso, fica descansado que prometi a mesma, depois que em Maio de 2009 sai de tua casa que estavas morto para mim. Claro que foi a raiva a falar, mas depois o tempo passa e quem consegue ficar com raiva, ódio ou seja o que for por alguém que se amou tanto? Quem consegue ficar com rancor, quando no seu coração, apesar de destruído, não há lugar para maldade? Apenas percebi que tinha de te deixar ir e foi o que fiz. Não te incomodo para nada, nem mesmo pela educação da B. Deixo-te em paz para tudo, primeiro porque sou independente. Sempre o fui e ainda bem. Quando a B nasceu, e peguei nela pela primeira vez a primeira coisa que pensei e lhe disse foi que era linda, era o verdadeiro amor da minha vida e que estávamos sozinhas no mundo. Por isso não te chateio, mas também porque um dia me disseste que eu deveria fazer como se tu não estivesses cá. E porque convenhamos e sejamos sinceros, tu não sabes ser pai, pois não?
-Não. Não sei agir como tal e meu medo de falhar e tão grande que…
-Que nem vez que estas a fazer estragos maiores. Que estas a falhar aos teus filhos. E o pior é que mentes a ti mesmo alegando que não podias ser pai melhor, mas a serio, quando foi que fizeste os trabalhos de casa com teus filhos, preocupaste com sua saúde, educação? A sério???? Nunca.
-Sou um cobarde…
-És um ser humano amargurado e devias começar por perceber que toda a maldade que canalizas para os outros é reflexo da maldade que te fizeram a ti e deverias trata disso. Tentas incessantemente ser aprovado pelo teu pai, que sendo ele também alguém emocionalmente desequilibrado só te causou dor e tu nunca soubeste lidar com isso. Devias cuidar disso, devias tentar aceitar as coisas como elas são. Esse é o meu segredo de vitoria. Não podes forçar a natureza nem o destino.
Já te disse antes, aliás escrevi num livro que te ofereci. Que devias aprender a amar e aceitar a tua condição. Que assim serias verdadeiramente feliz. E podias sim ser bom pai e o melhor dos maridos. Sabes que apesar do sofrimento que me causaste eu vivi um grande amor? Sim. Foi real e verdadeiro para mim. Toda a maldade, egoísmo, desprezo e indiferença que possas sentir por mim, eu devolvo-te e digo-te com sinceridade que é problema teu não meu. Teu poder sobre mim já terminou há muito tempo. Apenas precisava de ter esta conversa contigo e dizer-te que não te amo, mas também não te odeio. És somente para mim o pai da B. E sei que este nosso vínculo, que já é tão ténue vai terminar um dia, porque um dia a B também vai perceber as coisas tal como elas são, não que a alinie contra ti, porque não o faço, mas porque é uma criança inteligente e já vai percebendo tuas reacções, tuas recusas, tua falta de interesse na pessoa dela. É que tu nem sequer disfarças…talvez seja melhor assim. Sim. Um dia este vínculo termina e tu ficas de vez livre de mim, mas sabes uma coisa? As lembras não as podes apagar e quer gostes ou não, eu fiz parte da tua vida também e em determinados momentos, eu, com todos os meu defeitos que me apontavas, com minha maneira peculiar de ser e minha forma especial e única de ser, fiz-te feliz. Como mais ninguém fez antes e nem o fará. Porque todos somos únicos e especiais. Quer gostes ou não, eu fui única na tua vida.
- Não sei o que ti dizer. Apenas...Desculpa…
-Eu já te perdoei. Já perdoei até o facto de teres destruído meu sonho de família. Só assim podemos seguir em frente e continuar a viver. Não sei guardar mágoa dentro de mim. Não sou assim. E para terminar, quero te dizer que para tu seres feliz, pára de insistir em algo que tu sabes nunca vai dar certo. Tua felicidade não está com mulher alguma deste mundo. Melhor seria que aceitasses tua condição de vez e agisses em conformidade. Eras mais feliz. E podias vir a saber o que é o amor de verdade. Nenhuma mulher te vai dar o que procuras. Nenhuma. Se te libertares desse medo de te assumires, vais ver que o teu pior inimigo eras tu mesmo. E sê feliz. È o que te desejo de coração. Sê feliz.
-E eu desejo que voltes a encontrar o amor da forma que mereces. Que encontres alguém na tua vida que te ame. Eu não sei se vou poder agir em conformidade com o teu conselho, mas é um bom conselho. Obrigada.
- Tu nunca vais perceber que eu já tenho o amor na minha vida? Eu não volto a depositar minha felicidade num homem. Não por medo, mas porque é errado. Ser feliz é um processo individual e eu sou feliz, com tudo aquilo que dia a dia consigo ter e alcançar.  Eu sou feliz com a vida que sabiamente escolhi levar. Depois de ti tudo ficou tao mais limpo e claro, que até um simples passeio a beira mar com a B é uma dádiva.
-Eu sei que sim. Eu sei que és feliz, mais do que alguma vez foste. Tu não és cobarde.
-Não J, nunca o fui.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Sentir

O chão frio, negro como a noite trouxe-me de volta á realidade. Chorei vezes sem conta, fiquei vazia de lágrimas e de sentimentos. Fiquei simplesmente vazia.
Mas, eis que com o passar do tempo, o que outrora estava vazio, com o sofrimento, começou a encher de novo. A fé é algo que não se pode perder, mesmo que tudo o resto falhe. E eu nunca a perdi. A fé de que depois da tempestade vem a bonança. Que depois da tristeza vem a alegria. Que depois da chuva vem o sol. Que depois da noite vem o dia. Que alguém está lá, a cuidar de mim. De minha filha também.

Sentir que a vida regressa a mim, com alegria, com entusiasmo e perceber que apesar da minha pequena vitoria há muito ainda para aceitar. Que sentir de novo a vida passa por aceita-la tal como ela é. Que podemos ser ainda tudo o que queremos ser, basta acreditar, ir á luta e largar de vez o pessimismos e o pensamento negativo.

Namastê!

Lembra-te de mim

Guarda-me nas tuas memórias. Acolhe-me nos teus braços serenos com carinho. Eu sou a estrela que contínua a brilhar alto no céu, e que de ma...