Ouço dizer que em casos de morte ou separação, temos de fazer um luto e isso tem de facto de ocorrer para seguirmos. No meu caso, eu não fiz o devido luto. No meu caso eu simplesmente falava, mas não sentia. Por isso voltei atrás e decidi seguir os passos necessários para recuperar desta separação. Para tentar fazer com que aquele amor não fosse mais sofrimento, mas libertação. E pronto lá comecei eu a aceitar que o amava ainda perdidamente. Depois aceitei que tinha terminado. Que o amor de facto tinha morrido e chegou a hora de enterrar o defunto.
No alto daquela encosta, com o mar a minha frente, naquele fim de dia cinzento, eu atingi um nirvana. Coloquei dentro de uma garrafa uma carta de despedida. Coloquei minhas alianças, de namoro e depois de casada. Olhei uma ultima vez para elas e li a inscrição em cada uma. Na de namoro ele mandou gravar : Amo-te. Na de casada ele mandou gravar : Es o verdadeiro amor da minha vida. Para sempre J. Pois...na altura chorei, mas enfim, eram só palavras gravadas numa aliança.
Bem, lá coloquei as alianças . Coloquei tambem uma foto de nós os dois, de quando eramos um casal feliz e sem medo do futuro. A foto está esbatida, só eu e tu é que nos reconheceriamos. Depois fechei a garrafa e antes de atirar ao mar, pensei em todas as coisas boas que vivemos. Coisas únicas, que tu nem lembras mais e que certamente nem dás importância. Oh mas foram coisas únicas mesmo, pois duvido que com outra mulher qualquer as voltes a viver. Mas enfim, lá recordei , chorei muito, aliviei a minha alma e fiz uma oração. Pedi a Deus que com aquele garrafa fosse tambem meu sofrimento. Pedi muita serenidade para lidar com o pai da minha filha, pois é so isso que ele é agora, o pai da minha filha. Pedi que me ajudasse a ser forte e confiante e pedi-lhe que ajudasse a ser feliz da forma mais digna, honesta e saudável, que fosse possivel. Respirei fundo e atirei a garrafa ao mar. E ali foi, toda a minha história com alguém. Os dias que o amei, que o odiei, as discussões, as noites de dormir de conchinha, o amor que fizemos, os jantares á luz das velas, as nossas conversas, as noites de cinema com mão dada, os olhares, a cumplicidade, os "minha querida" e "meu amor". Foi-se tudo, pelo ar, até ao mar. E foi tudo para parte incerta, para que nunca mais o veja. E assim se foi...simplesmente.
Olhei o mar calmamente, fiquei tão em paz, que nem sei descrever. Fui invadida por uma felicidade que não há palavras para descrever, só sentindo mesmo. Foi incrivel a paz e serenidade que aquele acto simbólico me trouxe. Naquele instante veio uma brisa mais forte, um vento de esperança. Já nada me segura mais ao passado, já nada me detém para o meu futuro. E a minha cabeça e coração ficaram livres, para amar, para viver e para dizer claramente que o J morreu em mim.