quinta-feira, 14 de maio de 2020

Valentina

"Quando me abraçavas, pensava no amor que sentias por mim, mesmo que ás vezes desses a entender que não me querias por perto. Pensava que aquele abraço, era a representação da segurança e tranquilidade que tu devias ter para comigo, porque foi também de ti que eu nasci e tu eras meu porto de abrigo...estava enganada...
O amor, sentimento puro de cuidar e proteger, era um tanto  diferente para ti e na minha inocência eu não via essa diferença. Não entendia que o amor não deveria ser toda aquela indiferença que me davas. Da mesma forma que não entendia, quando preferias ralhar, em vez de conversar. Quando dos teus olhos saiam expressões de maldade, quando da tua boca atiravas ao mundo teus monstros demoníacos, sobre forma de palavras. Tu assustavas-me, mas ao mesmo tempo eu era empurrada para ti e não tinha como dizer não.  
Tuas mãos e teus braços, que deveriam ser somente para me levantar no ar e brincar comigo,  para me abraçar e cuidar de mim, viraram armas e eu tenho medo. Quando olho para ti, sei que te amo, mas tenho medo de ti. 
No fundo eu sei...sempre soube. Olhas para mim como alguém que não deveria existir, mas eu continuo na minha inocência a achar que talvez eu esteja errada e tu sejas mesmo meu porto de abrigo... e as pessoas continuam a empurrar-me para ti, mesmo quando eu digo que tenho medo. Será que alguém me ouve?...Alguém?... Porque me mandam para esta casa? Porque não me protegem?
Quando começaste a ralhar, desta vez com mais agressividade, meu medo aumentou. Ralhas e bates, ralhas e bates. Dizes disparates, acusas, culpas...consegues te ouvir? Sabes o que estás a fazer? Meu corpo frágil não aguenta...Quando te olho, apenas pergunto porquê? Mas porquê?...
Dá-se então um espaço de tempo, onde não consigo perceber o que se passa. Dói tudo, mas dói mais meu coração...está despedaçado...desiludido...desfeito... 
Quando desperto daquela sensação de dormir, já não estou mais naquela casa de tortura, e tu já não estás mais aqui. Deveria ter medo de estar sozinha, mas há uma paz aqui que não entendo. Quero correr para os braços de quem me ama de verdade, mas também não os encontro. Aqui não sinto mais a dor pelo corpo, pelo contrário, sinto-me leve e embora estou sozinha, não tenho mais medo. Estou em segurança. Aqui já não tenho mais de ver os monstros. Monstros esses que não saíram das histórias dos livros, que tinham cabeças e dentes grandes e me causavam pesadelos, mas os monstros que andavam à minha volta e maltratavam. Aqui já não há monstros..."

" Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro, mas a real tragédia da vida  é quando os homens têm medo da luz." Platão

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Lembra-te de mim

Guarda-me nas tuas memórias. Acolhe-me nos teus braços serenos com carinho. Eu sou a estrela que contínua a brilhar alto no céu, e que de ma...