domingo, 10 de agosto de 2025

Tu destruíste-me...

Quem diria pai, que serias tu a causar o pior dano na minha vida! 

Seria de supor que a morte da mãe fizesse isso, afinal foi o que de mais horrível aconteceu. Aquela morte inesperada, causada por uma negligência médica, numa noite de verão. Mas a morte da mãe, trouxe tristeza e o vazio de não poder vê-la, ouvi-la e estar com ela. Causou uma dor terrível, mas não nos destruiu...

Poderia supor que o fim turbulento do meu casamento e consequentemente o divórcio fizesse o pior dano, mas o que fez foi construir, a bem da verdade, uma resiliência forte e transformar-me numa guerreira.

Mas tu pai! Tu, com uma simples decisão egoísta e sem pensar na verdade, trouxeste a destruição. De uma só vez mataste a família que um dia fomos os cinco, mataste a memória de uma companheira de vida que te apoiou, aturou as tuas merdas, o teu estado alcoólatra, e ajudou a construir o que tinhas. De uma só vez roubaste as tuas filhas, sangue do teu sangue para dar a estranhos. Estranhos que não passam de parasitas. Daqueles que esperam a oportunidade e quando ela chega não pensam uma única vez na moralidade, e nas consequências, só pensam no dinheiro. Sempre o dinheiro.

Quem diria, que tu nos ias deixar esta guerra? Quem diria que nos odiavas tanto assim? 

Espero que onde quer que estejas hoje, estejas feliz e contente. Que vejas o sofrimento estampado nos nossos olhos, as noites sem dormir e te congratules com o que fizeste. Bravo!

Tu destruíste-me! Não tenho sossego com esta injustiça que nos deixaste. Vejo tudo a fugir da minhas mãos e não tenho como travar e as forças da guerreira começam a perder-se. Vivo agoniada. Choro compulsivamente e com 51 anos de vida, jamais esperei nesta altura da vida estar a passar por isto. 

Ironicamente não te odeio, mas tornaste-te num nada para mim. Não és nada! Mataste o herói que eras aos meus olhos. 

Sinto-me cansada. Cada passo que dou, no sentido de salvaguardar e preservar, só aumenta a desgraça.

Estou derrotada...Gostava de poder voltar a olhar-te nos olhos e dizer-te tudo aquilo que tenho vontade de gritar ao mundo! Tu tornaste-te no pior pesadelo e ainda rias feliz com toda a maldade que causaste.

Não espero que estejas no inferno, muito menos num Ceu idílico ao lado de Deus. Espero que estejas num sitio para onde vão aqueles que atraiçoam o seu próprio sangue! Aquele lugar onde apenas reside o eterno esquecimento. É aí que pertences, porque tu falhas-te não só como pai, mas como ser humano!

domingo, 16 de fevereiro de 2025

As mentiras que contamos a nós mesmos

Podia ter sido sincero e dizer a verdade. Eu estava assustado e com medo da solidão. Ao mesmo tempo, eu já não gostava das minhas filhas. Elas e a mãe tinham um relacionamento que eu jamais tive com elas ou poderia ter e isso assustava-me no inicio. Com o tempo virou ressentimento e no fim, não restava já nada. Quando a mãe morreu, eu só queria sair dali. Gritar já não ajudava e eu era o homem da casa. Tinham de fazer o que eu dizia. E assim fizeram. Respeitaram-me como sempre respeitaram e aceitaram as minhas decisões, como sempre aceitaram, mesmo que as magoasse. Mesmo que eu estivesse literalmente a cuspir nas suas caras!

Mas sair dali não iria ajudar! Os problemas iriam comigo e eu só iria adiar o inevitável. Então tomei aquela que foi para mim a pior decisão da minha vida. E com isto, arrastei para uma guerra, quem eu na verdade mais amava, mas que mentia para mim mesmo que não. E porquê? Porque tinha ciúmes do relacionamento e do amor que elas nutriam pela mãe e porque sempre achei que não o tinham por mim...como eu estava errado!

Que mentiras disse a mim mesmo para tornar o inaceitável, aceitável! Que mentiras deixei que me colocassem na mente, para afastar quem na verdade me via como um herói! Eu sei...eu hoje sei. Eu era o vosso herói!

E agora, resta a dor que eu causei. A indiferença de toda esta realidade que ficou a minha vida e o que eu deixei para trás.

Pedir-vos perdão não chega minhas pequenas, minhas queridas filhas. Eu teria de voltar atrás no tempo e não deixar que a minha mente ficasse parada no único pensamento que nutria, dia após dia e que me arruinou. Eu deveria ter falado com vocês. Eu deveria ter agido, ter tido a coragem suficiente para enfrentar a minha solidão sozinho. Eu deveria ter sido vosso pai até ao fim, mas na verdade, deixei que as mentiras que eu contava a mim mesmo vencessem e no fim, mesmo eu não merecendo, com o vosso amor, provaram-me de que apesar de tudo, da dor que vos causei, e da merda da guerra que vos ia deixar como herança, eu continuava a ser o vosso herói.


E hoje, eu sei, minhas querias filhas, que vocês foram o que de melhor eu tive da vida. Vocês e a vossa mãe. Gostava de poder dizer-vos isto frente a frente, mas já não posso mais e a cobardia levou o melhor de mim. 

Não espero o vosso perdão, e peço a Deus, todos os dias, que vos ajude nesta guerra injusta que vos coloquei e que no fim, seja feita justiça. Porque vocês lutam pelo amor da nossa família e do vosso porto de abrigo que eu construi para vocês as três e a vossa mãe. Não foi para mais ninguém! Os outros merdas, os oportunistas, só agem por vingança. E quem semeia ventos...

Filhas, vocês são a minha luz, eu cuidei das três com amor e carinho, dentro do que eu sabia poder vos dar. Lembrem-se de mim, pelas coisas boas e perdoem-me pelas más...se o vosso coração vos permitir!

Tu destruíste-me...

Quem diria pai, que serias tu a causar o pior dano na minha vida!  Seria de supor que a morte da mãe fizesse isso, afinal foi o que de mais ...