Por experiência própria, sei que perdoar, não implica que não se tenha cuidado com a pessoa que praticou os factos, ou que não se espere ingenuamente, que algo não volte a ocorrer. Ainda assim, perdoar é fundamental para a pessoa seguir em frente. Para não carregar mais um peso, que a vai prender a algo que não trás nada de saudável a ninguém.
Mas, mesmo tendo conhecimento lógico de tudo isto, por vezes, surgem situações e ações, que por serem tão nefastas, demasiado maldosas e cruéis, fica difícil perdoar e só o tempo é que ditará o sucesso ou não nesse perdão. Este tipo de situações, deixam sempre marcas e são situações que alteram quem somos, porque podemos até perdoar um dia, mas o estrago foi tão grande, a ferida foi tão profunda, que não cicatriza, fica exposta como uma ferida permanentemente ativa. Nessas situações, algo se quebra e não há mais volta ao que se era. Fica impossível.
Contudo, e se tivermos sorte, podemos tirar algo de positivo de toda aquela situação e certamente a mudança que ocorre em muitos de nós, pode ser para melhor. Que talvez ajude a pessoa evoluir emocionalmente e em maturidade. Mas, existe o reverso. Existe a possibilidade de que a crueldade foi tanta para connosco, que não se recupera nunca, que o que resta de nós são fragmentos do que outrora fomos e mesmo tendo bem a noção de que nesta situação, deixamos que quem nos fez mal vença, é também certo de que, por vezes, não se consegue... simplesmente não se consegue...
Pessoalmente já perdoei e deixei ir, quem muito mal fez. Deixei ir e embora não possa dizer que esqueci, ficou relegado para uma parte da minha mente onde já não tem relevância na minha vida. Com o tempo, só ficou, "É verdade, ele/ela fez isso...já nem recordo mais". Ocorreu isso com o pai da minha filha, com amigos, com pessoas de trabalho. E é bem verdade de que todos os dias estamos expostos a todo o tipo de pessoas e situações.
Mas, tem algo que, por mais que eu tente, que eu peça a Deus, ao universo, não consigo perdoar, esquecer ou deixar ir... A ferida é tão profunda como o oceano, e a determinada altura, a ferida perde-se na sua imensidão de maldade e crueldade, que não me deixa ver a razão e a lógica...não me deixa seguir em frente...
Todos os dias sou confrontada com esta maldade e crueldade. Todos os dias tenho de a encarar de frente e tem dias, que fica insuportável. Que sair da cama é um martírio, que fazer atividades diárias é um tormento e por vezes respirar fica difícil...e já nem vou abordar a temática dos ataques de ansiedade diários... Para muitos que possam ler estas palavras, podem achar que estou com depressão. Sim, talvez seja possível... mas a verdade é que alguém que eu mais admirava neste mundo, que era suposto proteger e cuidar, espetou uma faca metafórica nas minhas costas, e não satisfeito com o que fez, ainda rodou e rodou e rodou, para que a ferida que estava a causar fosse bem profunda, quase mortifica e ficasse bem aberta, exposta e difícil de cicatrizar. Quiçá ouso dizer que, foi feito assim para que ficasse permanente na minha vida, sem possibilidade de voltar ao que era um dia. Pois sei que daqui não há mais volta...
Então, eu não creio que a depressão possa ser o diagnóstico aqui, ainda que a dor do que estou a viver me atire para este desassossego constante e esta vontade imensa de terminar com tudo, ainda assim, o que eu estou a passar irei diagnosticar como um coração partido, daqueles que não se pode colar de volta, daqueles que ficam partidos em milhões de bocadinhos...daqueles que não há mais volta...ou pelo menos, não a consigo encontrar...
Então por agora, sem fim à vista, no meio deste túnel escuro, onde só tenho por companhia esta dor e este sofrimento, dirijo-me a ti pai e pergunto-te, como pudeste ser tão cruel e egoísta e fazer tanta maldade com as tuas próprias filhas?...
Eu não te consigo perdoar...
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