As vezes o sofrimento cega-nos e não nos deixa ver as coisas como elas são. Sei que não és de todo um santo e que tiveste tua culpa no caso. Seja porque pensavas que como eu era jovem e imatura a nível de relacionamentos, podias controlar e manipular, seja porque achas-te que eu seria uma boa queca e nada mais. Seja pelo que for, tiveste tua culpa e por ela e a dor que causas-te em prol de um falso amor teu , deves responder um dia, se é que ainda não o fizeste. Mas a verdade é que o sofrimento fez-me ficar cega de raiva e rancor. Fez-me ficar absorvida na minha própria dor e eu não quis aceitar que não se pode pedir a ninguém que nos ame. Que na verdade não amavas e que de alguma forma tentas-te amar.
Eu hoje sei que sim.
Mas não conseguiste e por mais que eu queira falar mal de ti, dizer o pior de ti, a verdade e que se fosse comigo, no sentido inverso, eu jamais voltaria para quem não amava e certamente pediria o divórcio. Por esse motivo eu não vou poder mais te culpar. Não me amavas e isso não posso pedir que o fizesses ou que ainda o faças. Mas também é verdade que tu, sabendo bem dos teus sentimentos, alimentas-te esperanças. Alimentas-te sonhos, que não passavam de ilusões e castelos no ar e isso não tens o direito de o fazer. Nem a mim nem a mulher alguma. Se não amavas e só querias quecar sem responsabilidades ou compromissos dizias a verdade, eu aceitava ou não. Não tinhas o direito de dizer que amavas e que eu era a tua última esperança de ser feliz. ( Bolas como um ser humano se ilude, com palavras doces… :-( ) Não tinhas esse direito, mas fizeste-o. Não sei se tu acreditavas mesmo nisso, ou se querias acreditar…mas a bola de neve foi crescendo, veio o casamento, depois a nossa filha e mais uma vez tu achavas que podias aguentar, que podias despertar em ti algum sentimento e lá foste nesse barco. Mas verdade meu querido J é que tu não querias nada daquilo. Pelos menos não comigo. E eu? Eu lá continuava, com a suspeita no coração, porque uma mulher sente quando não nos amam, sente quando o amor é unilateral e não fluiu. Mas eu fingia e queria acreditar que estava a viver um conto de fadas. Porque eu amava-te de verdade...Quanta idiotice na verdade. Mas lá veio o dia que para ti já era demais. Sentis-te que aquela situação não era mais sustentável para ti e ao fim de 6 meses após o nascimento da B, foste embora. Tivemos três patéticas tentativas de recuperar algo que não deveria ter acontecido á partida. Simplesmente eu não era a mulher para ti e tu não eras para mim. Mas foram precisas essas tentativas, para que eu percebesse finalmente, que não há forma de ter o que eu nunca tive. Que eu não posso pedir teu amor. E hoje, eu aceito essa condição. De certa forma aceito que tentas-te, mas falhas-te...
Infelizmente, continuas a falhar, mas já não é mais comigo. O divórcio foi de mim, mas parece que foi também um divórcio da tua filha e por mais que eu insista para passares tempo com ela, a verdade e que tu não queres e não podemos te obrigar a nada. Tentas justificar, dizendo que vais vê-la quando queres e não quando eu quero, como se uma coisa tivesse que ver com outra! E como se eu fosse daquelas mães que alieniam seus filhos contra o pai. Quanto mais liberdade te dou para estares com ela, menos a aceitas!
Já cheguei a pensar que não tinhas coração, que eras um monstro sem sentimentos, mas a verdade e que és apenas um homem, com seus defeitos e com suas virtudes, porque as tens e eu reconheço-as. Mas és também um homem frio com tendência para magoar e isso já não vais poder alterar. Eu sou a prova viva disso. A B é prova disso. Merda, toda a tua vida é prova disso.
Para quê que escrevo isto? Nem eu sei. Talvez porque tenho de te deixar ir. Talvez porque chegou a hora de desapegar de ti…Tu já nem sabes que eu existo e eu estaria a ser minha inimiga se continuasse a insistir em castelos no ar. Castelos esses, que estaria agora a criar a mim mesma, pois os que crias-te, tu já os desfizeste... Bastou uma frase tua para terminar com tudo e eu não posso continuar a agarrar a nada.
Virá o dia em que a tristeza que tenho dentro de mim terminará. Anseio por este dia. E até esse dia chegar, vou levando a minha vida da melhor forma que sei e posso, com altos e baixos, mas sem magoar alguém e com toda a dignidade que me resta. Se até aqui me fechei numa muralha, chegou o dia de sair e começar a viver. Mas só o podia fazer pondo uma pedra neste assunto mal resolvido que foi o fim do nosso relacionamento e o amor que eu sentia por ti.