domingo, 29 de novembro de 2020

Não és mais o meu herói...

Choro, sentada na cama a pensar em tudo o que a vida me reservou aos 46 anos. 
Choro por ti também. Porque me arrastaste para esta vida que eu não quero e não pedi por ela. Não é justa para ti, mas certamente também não é para quem está cuidar de ti. Ou a tentar pelo menos.

Será que tuas ações presentes serão assim tão diferentes das que eu cresci a vivenciar?
Questiono quando foi que paraste de olhar para nós como filhas e nos viste como uma pedra, que chutaste para bem longe, na esperança que ela não volte jamais para te fazer tropeçar. E assim foi por algum tempo é verdade.

Viveste tua vida longe de nós, fico com a sensação de que nos odeias e já nos odiavas antes. E nem sequer consigo conceber a razão porque te sentes assim? Tanto ódio e raiva. Como se pode questionar um amor de um pai por um filho e que este se transforme em ódio? Deus, como pode isto acontecer?

Eu sou mãe há 16 anos e a minha linda e preciosa filha é tudo para mim...por isso não, não sei o que poderíamos ter feito...o que...não sei...não sei como...

Não foi só a dor de perder nossa mãe, perdemos o pai também. Aquele que ficou cá não é mais nosso pai. E por mais que tente, não tenho mais a ideia de seres o meu herói. Meu herói morreu, naquela noite de verão, junto com o último suspiro que a mãe deu.

E o enredo em que agora nos colocas, por puro egoísmo da tua parte, é uma peça de teatro desajustada  e complementarmente injusta, que por vezes sinto-me a viver um pesadelo, que teima em não me deixar acordar.

Questiono minha postura em tudo isto, meus valores morais, minha educação. Questiono o que é mais correto a fazer, porque o pesadelo persiste.

Lembro os sacrifícios, os que fizeste para cuidar da tua família e aqueles que agora temos de fazer para cuidar de ti. Não são equiparáveis, nem tampouco quantificáveis. São o que são. E são injustos. Sinto que entramos num túnel sem luz e agora, só às apalpadelas e que podemos seguir em frente e tentar sair daqui. Só não sei onde está o fim, nem como sairemos dele. Se o que restar de nós, será suficiente para seguir nossa vida com algum grau de decência e uma certa felicidade. Porque tu arruinaste-nos.






Sem comentários:

Tu és a razão

O ser mais doce que este mundo já produziu. O teu ar sereno, as tuas doces palavras, o teu aconchego.  Teu abraço, quando as lágrimas teimav...