quarta-feira, 27 de junho de 2018

Envelhecer

Por mais que existam coisas que nos dê medo e ansiedade, nada assusta mais do que envelhecer.
Ver o quanto perdemos, no que nos transformamos no final, dá-me mais medo do que enfrentar a morte.

Meu pai sempre foi um homem forte, daqueles homens determinados e sempre teve um rápido raciocino e conversa de fácil argumentação. Meu pai falava de tudo um pouco. Estava sempre atento ás noticias, ás novas tecnologias, ao desenvolvimento.

Meu pai, que hoje, não tendo sequer ainda 80 anos, parece um bebé, perdendo as suas faculdades mentais. Anda com fralda. Passeia durante a noite, pela casa, assustando tudo e todos. Vive uma vida que já não é a dele. Vive porque respira e o coração ainda bate, mas meu pai já não é quem era.

Quando olho para trás, e o visualizo agora, assusta-me pensar que em dia, toda aquela sabedoria se vai. Toda a nossa destreza. Não reconhecemos filhos, marido ou esposa. Não sabemos sequer onde estamos a dormir, se vamos ter alguém que nos dê de comer, dar banho, etc.

Meu pai, apesar de tão de repente ter ficado assim, perdendo quase toda a dignidade de ser humano, ficando sujeito e à mercê de outras pessoas, tem um olhar triste. Permanentemente triste...

Então eu fico assustada, porque não é o único a quem eu vejo diariamente envelhecer e a perder as suas faculdades. Seja porque simplesmente as células chegaram a um ponto e retrocedem, seja por doença , seja pelo motivo que for. Um dia estarei ali, não sendo já eu mesma, sendo um vislumbre de quem outrora fui.

Para trás fica todo o meu conhecimento, os livros que li, as opiniões e conselhos, a destreza de ações e pensamentos. O discurso coeso e assertivo. Eu, simplesmente não serei mais... e isso dá-me medo.






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