Vim para ali sem perceber muito bem, mas eis que á minha frente estava uma enorme montanha. Para os lados não havia caminho, estava uma névoa forte e escura. Algo me dizia que o caminho a seguir seria começar a subir. Instintivamente foi o que fiz.
Não se via o pico da montanha mas fui caminhando, subindo. No inicio muito devagar, era tudo incerto. Era um adamastor. Mas segui sempre. Cai algumas vezes, coisa sem importância, alguns arranhões. Nunca desisti. Ao fim de algum tempo, anos até, enfrentei uma tempestade, cai, quase que me esborracho no chão, mas não... levantei, limpei as lágrimas e segui em frente determinada que ia lá chegar. Ao topo, mesmo sem o ver. Bolas, que voltei a cair várias vezes, fiquei algum tempo sentada a chorar e desejar voltar para trás, mas isso parecia totalmente impossível e anti-natural. Eu queria fazer parte de algo que não sabia o quê...Por isso levantei-me e prossegui. Nunca caminhei sozinha totalmente. Estavam sempre pessoas ao meu lado, algumas com menor importância, outras com uma importância extrema, mas sempre importantes. A certa altura um pequeno ser caminhava a meu lado e ia crescendo comigo. E aquela subida tornou-se até um prazer, uma bênção. E por breves momentos não cai, não chorei, apenas desfrutei a paisagem da subida. As flores, o mar, a natureza, o ar frio numa noite de verão, o cheirinho do Outono, o inverno com seu sol, mas o friozinho típico. A certa altura aquela criança já crescida, quase uma mulher, que comigo caminhava subia por si, mas voltava ao meu lado de vez em quando dando-me a mão e sorrindo. Foi já perto do topo da montanha que vi aquele azul maravilhoso e aquela claridade indescritível. Aquela paz de espírito e harmonia. Eu tinha chegado ao fim da minha escalada. Aquela criança, que era agora uma linda mulher, dizia-me adeus, e um amo-te mãe...até um dia.
Olhei em frente e entrei na claridade. Não sentia mais aquela tristeza permanente. Já não me sentia mais aquela morta viva que ás vezes me assombrava e que subia a montanha sabendo que algo deixara para trás e que não viveu, que alguém a deixou para trás... Entrei e a minha espera estava minha mãe...abracei-a chorando. Tinha saudades dela que destruíam meu coração, mas ei-la ali.
-Valeu a pena a subida filha? -perguntou-me sorrindo.
-Sim mãe, pois tive pessoas magníficas que me acompanharam na subida, tive uma filha maravilhosa, uma bênção para mim e vivi um grande amor. Deslumbrei paisagens lindas, chorei, cai, mas consegui aqui chegar...- disse agradecendo no meu coração a alguém por aquela subida.
-Ainda bem filha, porque agora estás em casa… e todos que já aqui chegaram antesde ti, aguardam-te.
1 comentário:
ha que aproveitar a escalada então e esperar que no fim seja tão justo como aqui retrata.
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